“Revista de Crítica, Arte e Letras”, tem como director um poeta importante deste período do modernismo português, ligados a outras revistas, Afonso Duarte, poeta bastante conotado com o universo nortenho do saudosismo e da nostalgia bucólica.. O director artístico será Correia Dias, que fará a sua carreira no Brasil, para onde emigra e onde casa com a poeta Cecília Meireles. A sua direcção dá um grande consistência gráfica (a começar pelas vinhetas), para a qual também contribui com alguns desenhos, nomeadamente "Solidão", efectuado em Coimbra, de acordo com indicação do autor. Almada Negreiros e Christiano Cruz são outros dos nomes que marcam com os seus desenhos as revistas, numa das primeiras publicações em periódicos dos dois incontornáveis do Modernismo artístico.
A sua parte gráfica parece ter tido uma enorme influência, carecendo de carácter vanguardista e de estética passadista, nas revistas de Coimbra, como é o caso flagrante de A tradição, revista editada naquela cidade quase uma década depois (1920), mas cujas capas são comparáveis a este nível. Outro caso é ainda a revista portuense A Boémia, na sua segunda série de 1914, ou ainda do mesmo ano, de Coimbra, A Galera.
José Carlos Seabra Pereira situa assim a revista: "À ilharga da Dionysos, também A Rajada, por entre a indefinição ideológica e estético-literária manifestada após abstenção de qualquer proposta programática, testemunhava logo no número inaugural pela intervenção de Manuel de Sousa Pinto ‘Da arte e futuro de António Carneiro’, da irradiação coimbrã do Neo-Romantismo saudosista" (A Rajada, ed. facsimilada, Coimbra: Minerva, 2003, p.17). Não é de estranhar, assim, que o malogrado Manuel Laranjeira, morto nesse mesmo ano, assine aí um texto dramático, um 'diálogo de amor' bastante pessimista entre duas personagens.
São editados quatro números, impressos na Tipografia do Anuário Comercial, caso interessante para uma revista de Coimbra, visto a distância entre essa cidade e Lisboa.
Esta revista continuou numa segunda série no Brasil, mas já sem direcção de Aarão de Lacerda.
Ricardo Marques