Dois anos depois de "A Rajada", surge esta revista “quinzenal d’arte e ciência”, editada durante seis números entre Novembro de 1914 e Fevereiro do ano seguinte. Graficamente, a partir do segundo número, identifica-se uma proximidade à citada revista de 1912, que irá fazer escola. O seu propósito quinzenal sai também gorado, sendo uma revista que edita um número mensalmente (28 nov., 20 dez, 6 de janeiro, 1 fev. 25 fev.)
A epígrafe latina desta revista, Suave mari magno praeteriti est procedere ad futurum, é bastante elucidativa do seu propósito, entre passado e futuro. De acordo com o que é dito no texto inicial "Rota a seguir", o pensamento sobre arte e ciência, dois lados compatíveis da vida, era uma "galera" e o propósito do encontro desta "escola de navegantes".
"A Galera" é assim uma revista que devota alguns dos seus números a homenagear escritores conhecidos, nomeadamente Camilo e António Nobre, o homenageado desse número final, duplo, 5/6, de 25 de Fevereiro de 1915, apenas um mês antes da saída de "Orpheu". O depoimento de Pessoa intitula-se "Para a memória de António Nobre" e tornou-se um texto de referência para o estudo da relação do autor de Mensagem com o poeta finissecular. Também Mário de Sá-Carneiro publica aqui o seu poema de homenagem - "Anto", o que demonstra, como veríamos depois com "Orpheu" e nesse ano em A Renascença, que Pessoa publica muitas vezes a par do seu compagnon de route.
De acordo com o frontispício do primeiro número, os seus directores foram Alves Martins, Costa Cabral, Ferreira Monteiro, Garcia Pulido, Nicolau Sobrinho, Óscar Soares e Tito Bettencourt, directamente relacionado com o director artístico, Tarquínio Bettencourt.
Ricardo Marques