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Medium
Fernando Pessoa
BNP/E3, 14-4 – 42-44
BNP/E3, 14-4 – 42-44
Fernando Pessoa
Identificação
[Sobre os elementos que compõem a literatura]

[BNP/E3, 144 – 42-44]

 

Exposição

(1) a agudeza, força ou profundeza dos caracteres

(2) a sua disposição e ordem,

(3) a perspicuidade com que são emitidos,

 

No |*grupo| distintivo pode a disposição e a ordem; no ordenamento a força, na † a perspicuidade e a clareza.

 

Expressão:

(1) a força da linguagem (a organicidade)

(2) {…} |*A inveja na força da lógica|

(3) A propriedade da linguagem. A propriedade é dela

Ritmo: (Harmónico)

 

[43r]

 

Três são os elementos de que se compõe a arte, e chamamos literatura. São eles a exposição, a expressão e o ritmo. |Refere-se| a poesia aos pensamentos e à sua disposição escrita, que por ser compreendida e {…}; em seguida às palavras e às vozes, {…}; e tocam no mais das vezes, já separadas, já servidas e servindo um conjunto.

 

Três são os géneros literários, que daqui se derivam. Provém da predominância no discurso de um ou outro destes 3 elementos. Literatura expositiva é aquela em que o fim da exposição é transmitir as ideias; expressiva aquela em que o fim é também o seu modo, antes que se escreva; rítmica {…}

 

[44r]

 

No género expositivo distinguiremos 3 espécies do discurso. O dialéctico, o didáctico, e o |aforístico|[1]. No dialéctico é a exposição uma prova, e o discurso expositivo desta espécie será tanto mais perfeito, quanto mais desenvolva e analise os conceitos, cobrindo: todas as hipóteses, exaurindo todas as objecções, quantas caibam no entendimento da matéria. – No didáctico, não faremos senão (nos) expressarmos; e onde no dialéctico a demonstração é pois a prova, aqui, no didáctico, será pois elucidação. No discurso dialéctico chegamos a resultados, e o perfeito entendimento resulta da perfeita compreensão de como se chega aos resultados. No discurso didáctico expressamos resultados a que se chega, e a perfeita compreensão resultaria da clareza com que esses resultados são expostos. No discurso dialéctico presume-se no leitor igualdade, e que haja de ser convencido; no didáctico inferioridade e que haja de ser ensinado.

No discurso aforístico, diferente de qualquer destes[2], nem se pretende convencer, nem ensinar, o leitor; |*quem o tem| sente prová-lo. Pois a expressão, no nosso relato é

 

[44v]

 

constantemente derivada, e no didáctico sempre {…}, é aqui[3] apenas {…}

 

 

[1] |aforístico| /fragmento\ /epigramático\

[2] destes /aqueles\

[3] aqui /(neste)\

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Classificação
Literatura
Dados Físicos
Dados de produção
Português
Dados de conservação
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Palavras chave
Documentação Associada