Arquivo virtual da Geração de Orpheu

Medium
Fernando Pessoa
BNP/E3, 14-3 – 59
BNP/E3, 14-3 – 59
Fernando Pessoa
Identificação
[Sobre Orpheu]

[BNP/E3, 143 – 59]

 

Como foi a revista “Orpheu” que lançou em Portugal as sementes do neo-simbolismo e do sensacionismo portugueses, e implicitamente do futurismo, e como os dois colaboradores dela que focaram escândalo foram Mário de Sá-Carneiro e eu, e Mário de Sá-Carneiro está morto, acharam bem que eu fosse incumbido de prefaciar esta compilação.

 

|Devo dizer que não me acho incompetente para isso. Esta declaração tem, pois, as duplas honras de ser verdadeira e de não ser modesta, qualidades ambas raras, pelo menos do avesso.|

 

Por “documentos” não se entende aqui os verdadeiros documentos, que são as obras de arte; entende-se[1] os escritos, da natureza de manifestos, que tendiam a explicar, quando não esses vários movimentos conjuntos, pelo menos as suas tendências. Também se omitem os documentos contrários: esses são contrários. Omitem-se ainda os documentos de movimentos ou pessoas mentais derivadas do neo-simbolismo e do sensacionismo. São sombras.

 

Nasci, como toda a gente, incluindo os historiadores, incompetente para escrever história. Não narrarei, portanto, senão factos. Direi muito por alto o que foi o neo-simbolismo português, o que foi o futurismo português, o que foi o sensacionismo português.

 

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Os movimentos estão sempre começados antes de começar, nas individualidades separadas que os começam juntas. O neo-simbolismo e o sensacionismo explodiram juntos no “Orpheu”, cujo número 1, saiu em 2- de Março de 1915. Já antes, porém, havia sinais dessa tendência – sinais visíveis e sinais invisíveis. Havia os livros “A Confissão de Lúcio” e “Dispersão”, de Mário de Sá-Carneiro, que são do ano de 191_; havia o número único da revista “A Renascença” (data) que continha a colaboração neo-simbolista de Fernando Pessoa, de Mário de Sá-Carneiro, de ------------- Havia já, no número --- de “A Águia”, revista saudosista do Porto (onde já, no nº 4, Fernando Pessoa havia anunciado a “próxima vinda” do “super-Camões”) colaboração neo-simbolista deste mesmo Fernando Pessoa e de Mário de Sá-Carneiro; de Fernando Pessoa um trecho interseccionista – o primeiro – intitulado “Na Floresta do Alheamento” (que depois deu a citação epigráfica à “Confissão de Lúcio”), de Sá-Carneiro o conto “O Homem dos Sonhos”, mais tarde reeditado em livro (“Céu em Fogo”). No número --- da mesma “Águia” apareceu ainda outro conto neo-simbolista de Sá-Carneiro, “O Fixador de Instantes”, reeditado também no citado “Céu em Fogo”, que é de 1915 (Maio). Como o movimento estava em marcha, é claro, antes de começar, outras mostras haverá da sua existência que ou desconheço ou de que não me recordo. Creio que as que citei são as principais. Refiro-me em tudo isto a indícios visíveis, isto é, a coisas publicadas.

 

 

[1] entende/|m|\-se

https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/4453
Classificação
Literatura
Dados Físicos
Dados de produção
Português
Dados de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Palavras chave
Documentação Associada
Fernando Pessoa, Sensacionismo e Outros Ismos, Edição de Jerónimo Pizarro, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2009, pp. 213-214.