[BNP/E3, 14¹ – 20-20a]

A literatura dramática é uma subespécie de literatura narrativa, e esta uma espécie de género literatura.

A literatura é a expressão verbal dum temperamento; a literatura narrativa a forma objectiva dessa expressão verbal; a literatura dramática a forma sintética dessa espécie objectiva. Um drama não é mais que um romance na sua forma máxima de síntese possível.

As qualidades do drama são pois de 3 ordens: as que |ele| tem em comum com todas as formas literárias, as que tem, mais particularmente, em comum com todas as narrativas literárias; as que lhe são próprias como forma maximamente sintética da narrativa literária.

[20a^r]

Será um drama tanto mais perfeito quanto maior for seu valor adentro de todas estas qualidades. Como literatura, será tanto maior o seu valor quanto maior puder ser a expressão verbal de um temperamento.

Por isso nenhuma espécie do drama iguala o drama em verso; como, porém, ninguém fala em verso, é forçoso que, para poder ser em verso sem quebra de objectividade, o drama em verso se cumpre de assuntos que nos não ficam por dentro fora da prosa. Restam pois no drama em verso, de um lado, os assuntos recentes ou no tempo ou no género, e, de outro lado, os que propositadamente tratem como recente e com perfeita força. O que não é nunca é que a obra em causa enuncia lugares vulgares – ou a 3ª parte de Hamlet.