Arquivo virtual da Geração de Orpheu

Medium
Fernando Pessoa
BNP-E3, 88 - 15
BNP-E3, 88 - 15
Fernando Pessoa
Identificação
[Sobre o Sensacionismo]

[BNP/E3, 88 – 15]

 

Toda a tendência da arte tem sido intelectualizar a sensação ou o sentimento. Propomo-nos inverter este processo, e sensacionar a inteligência. Em vez de partirmos da sensação, partimos da ideia; em vez de empregarmos a inteligência como mediador plástico, empregamos a sensação.

De aí o carácter absolutamente frio e intelectual da base da nossa arte. A emoção é em nós, não o fundo da nossa inspiração, mas o processo artístico dela.

 

(O simbolismo foi apenas uma obsessão musical. O futurismo não passa, em literatura, de um fenómeno tipográfico.)

 

A arte é uma mentira que sugere uma verdade.

A verdade, porém, é apenas o conceito de fazemos da objectividade.

A obra de arte é portanto uma mentira com carácter objectivo.

As características da objectividade são (1) a multiplicidade, por que, ao passo que me sinto Um, sinto o universo como Muitos; (2) a independência da minha personalidade, porque sinto que domino em mim, mas não nas coisas; (3) a fatalidade, porque, conquanto em minha consciência de mim me sinto livre, me sinto compelido como membro do Universo e ao Universo fora de mim, sinto-o escravo de leis imutáveis. Bem sei que estas minhas impressões são falsas – que eu nem sou uno, nem sou livre, nem domino em mim; como, porém, se trata de uma sensação, não procuramos a verdade além dela.        

 

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Classificação
Literatura
Sensacionismo
Dados Físicos
Dados de produção
Português
Dados de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Palavras chave
Documentação Associada
Fernando Pessoa, Sensacionismo e Outros Ismos, edição de Jerónimo Pizarro, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2009, p. 181.