Arquivo virtual da Geração de Orpheu

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Publica 24 números, de 10 de Março a 3 de Outubro de 1923. O seu director é Vítor Falcão, antigo colaborador da Ideia Nacional e da Atlântida, e de revistas dos anos 20 como a Contemporânea ou Europa. Os elementos modernistas que a constituem são evidentes, desde o subtítulo Literatura, Crítica de Arte, Sport, Teatro, Música, Vida Estrangeira até aos desenhos que surgem sempre a abrir, assinados por António Soares, Bernardo Marques, Jorge Barradas ou Cristiano Cruz, ou até às secções de crítica de livros, de teatro, de cinema e de desporto e vida moderna, nomeadamente reportando exposições ou espectáculos em Paris. Mas a sua secção mais importante aparece hoje como sendo «A Entrevista da Semana», que vai percorrendo algumas das figuras marcantes desse grupo-sem-grupo dos modernistas (com dois ou três equívocos pelo meio), já naquela fase em que a euforia órfica dos anos 10 dá lugar à paulatina conformação do gosto público pela arte moderna. Eis os entrevistados, na ordem por que o são: José Pacheco, Almada, Judith Teixeira, Tomás Téran, Rui Coelho, Carlos Porfírio, Cândido Guerreiro, Fernandes Lopes, António Carneiro, Bernardo de Passos, Antero de Figueiredo, Carlos Selvagem, Stuart Carvalhaes, António Ferro, Joaquim Manso, António Sérgio, Francisco de Lacerda, João Correia d’Oliveira, Raul Brandão, Mily Possoz.

A entrevista de Pessoa, a primeira que algum dia dá, é a última da série. Apresentado no texto de abertura como sendo dois, ele e Campos, parece ser antes «o seu segundo eu», o «engenheiro alucinado», nas palavras do redactor, a responder às perguntas que lhe são colocadas. Ou, pelo menos, é um Pessoa dobrado por Campos, o que é legível no lado provocatório e sensacionista notório na apóstrofe final: «Ser tudo, de todas as maneiras, porque a verdade não pode estar em faltar ainda alguma coisa!» (Crítica, 199). Em geral, a entrevista é um momento da linha nacionalista de Pessoa, com a ideia de que a Nova Renascença e o Quinto Império serão o destino de Portugal, no sentido em que o português «é, essencialmente, cosmopolita» (Crítica, 195), e, portanto, «Ser português, no sentido decente da palavra, é ser europeu sem a má-criação da nacionalidade» (Crítica, 197). É também o lugar em que Pessoa anuncia, ainda sem o nome, a Mensagem futura, pois, «Literariamente, o passado de Portugal está no futuro» (Crítica, 198).

 

 

 

Bibl.: Revista Portuguesa, ed. fac-similada, 2 vol., introd. Cecília Barreira, Lisboa, Contexto, 1983.  

 

 

Fernando Cabral Martins