Arquivo virtual da Geração de Orpheu

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O termo Ode remete-nos para dois diferentes tipos de composição representados na obra de Fernando Pessoa: as grandes Odes de Álvaro de Campos – «Ode Triunfal» (1914), «Ode Marítima» (1915) e «Dois Excertos de Odes» (1914), para além das menos conhecidas e inacabadas «Ode Marcial» (1916) e «Ode Mortal» (1927) – e as pequenas Odes de Ricardo Reis. Definida como um poema lírico dividido em estrofes semelhantes entre si pelo número e medida dos versos, a ode ganha em Álvaro de Campos características completamente diversas. Trata-se, no seu caso, de composições em longos versos brancos, alternando com versos curtos, sem métrica, à maneira de Walt Whitman. São odes futuristas, destinadas a cantar (como se preceitua também para este tipo de poema) a máquina e a vida moderna. O título «Ode Triunfal» não deixa, no entanto, de apresentar uma ressonância antiga, se nos lembrarmos das Odes Triunfais de Píndaro, celebrando os atletas vencedores dos jogos olímpicos. Em contrapartida, as Odes de Reis, publicadas pela primeira vez em Athena, nº 1, Outubro de 1924, mostram como Pessoa conhecia bem a tradição greco-latina e os aspectos formais deste género de poesia. Este conhecimento, adquirido na juventude (em Durban, aprendeu a ler Horácio no original, exercitando-se a traduzir as suas odes para versos ingleses, e estudou também poetas como Milton e Marvell, grandes cultores da ode), permite-lhe fazer uma perfeita tradução contemporânea das odes da antiguidade. Pessoa refere-se, aliás, à intemporalidade das odes clássicas do seu heterónimo, numa carta para Armando Côrtes-Rodrigues, de 4-10-1914: «Essas são em verdade contemporâneas por dentro da idade eterna da Natureza» (Correspondência, I, p. 124). E também Sá-Carneiro, numa carta de 27-6-1914, vê nelas, «uma “novidade” clássica horaciana». Maria Helena da Rocha Pereira chama a atenção para a capacidade de renovação do género que Reis revela. E sublinha o cuidado com a isometria e o perfeccionismo de Reis no tratamento que lhe dá, encontrando ecos de Virgílio em Reis, e intertextualidades entre as suas odes e as de Horácio. No entanto, a poesia de Reis, embora siga o esquema formal e temático das odes de Horácio, apresenta um nível especulativo e uma complexidade incomparavelmente maiores.

 

BIBL.: Maria Helena da Rocha Pereira, Reflexos horacianos nas odes de Correia Garção e Fernando Pessoa (Ricardo Reis), Porto, 1958; idem, «Leituras de Ricardo Reis, in Circum-navegando Fernando Pessoa, Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1986.

 

 

Manuela Parreira da Silva