O poema Pauis tomou o título Impressões do Crepúsculo em certas edições correntes a dada altura, mas, de facto, este título pertence a dois poemas, I - «Ó sino da minha aldeia», e II - «Pauis de roçarem ânsias pela minh’alma em ouro…», publicados nesse conjunto em A Renascença, revista inaugural do Modernismo português. Trata-se de um procedimento que Pessoa volta a utilizar na apresentação de Álvaro de Campos no Orpheu 1, com Opiário precedendo Ode Triunfal. Isto é, daquilo a que poderíamos chamar uma antítese estilística. Nos dois casos, um poema de factura e teor tradicional, rimado e medido, é colocado face a face com um poema em ruptura com a tradição. O resultado é o potenciar da capacidade de provocação do poema de ruptura, e uma intensificação do efeito de Vanguarda procurado por Pessoa. A montagem do velho e do novo, do regular e do irregular conduz a um efeito de estranheza extremo.

 

 

Fernando Cabral Martins