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Fernando Pessoa - Literary Theory

This digital edition of texts by Fernando Pessoa deals with the set of poetic theorizing writings from hisArchive and brings together essays, comments, notes, sketches and fragments about literature from the Portuguese author. The documents transcribed are in Fernando Pessoa’s Archive in the custody of the National Library of Portugal, with quota E3. All facsimiles are accompanied by a critical lesson and a paleographic transcription, which is available for download in the “PDF” field.

 

 

Medium
Fernando Pessoa
BNP/E3, 14-5 – 85-88
BNP/E3, 14-5 – 85-88
Fernando Pessoa
Identificação
Filologia Românica

[BNP/E3, 145 – 85-88]

 

Filologia Românica.

 

Para compreender bem o que se ainda chama pensamento poético e em geral o pensamento artístico em relação ao pensamento lógico, científico. Alguns supõem que intermediário entre estes está o género didáctico: diga-se que é como forma poética que tem por fim determinar. Quando a {…} homérica cantava os seus cantos estava consertada de dadas lições; estava persuadida que era certo, embora eles próprios manipulassem as suas histórias. Quando descreve viagens, como por exemplo as de Juno, está des-

 

[85v]

 

cripto como pondo realidade. Pode ser condensada como boa lição de geografia. Estava condensando Homero como fundador da geografia. Eram os livros – especialmente a Odisseia – os que educaram a humanidade. A Odisseia é um canto, o mais maravilhoso sem dúvida que se tem até hoje escrito – mas 1 canto com moral.

Aparecem depois outros poemas que têm caracteres mais constantes, mais moralidade: agricultor Hesíodo. Passando à literatura latina temos o grande poema de Lucrécio, e que ele tem por base o sistema material de Demócrito, mas acha aí matéria para grande inspiração poética.

 

[86r]

 

Este poema tem canto perfeitamente didáctico e tem observações psicológicas, sociais de alta importância como, por exemplo, a influência da criança na família. Temos a obra capital de Vergílio: as Geórgicas. Perguntamos agora: esses poetas procuravam realmente, no sentido próprio da palavra, instruir. Não poderíamos negar que eles quisessem ensinar, mesmo por exemplo tendo em vista propagar a filosofia epicurista. Mas se Lucrécio quisesse fazer a exposição exclusivamente filosófica dessa doutrina teria escolhido a prosa, não teria incluído tantos incidentes eminentemente poéticos. Vergílio podia ter escrito um

 

[86v]

 

tratado de agricultura, como os de Catão, Varrão, que já existiam. O que quis Vergílio, o que faziam os poetas decadentes? É preciso notar que vemos bem em que não bastava um lado poético. Todos sabem como Vergílio fez dum sapo um objecto de poesia. A construção do arado, já demonstrada por Hesíodo, os grandes corpos de bois.

“Magnum corpore bovum.”

Os poetas modernos ainda se ligam às coisas antigas e gostos, havendo a vida da falência. A arte tem ainda mundos inexplorados. São hoje sempre a chamada “eternelle chanson”. A moderna concepção arturiana não é menos nobre do que a antiga.

 

[87r]

 

Não confundamos os poemas didácticos com composições didácticas em versos, desde os versos de aprender vazios gregos, e as crónicas reunidas.

Em 1º lugar a poesia é uma forma da percepção mais primitiva do que a forma científica. Dividem-se em 2 as fases da escrita humana, a 1ª fase – a da ignorância, da irreflexão Lírica de sentimento 2ª da reflexão. Desta idade passa explicitamente a reflexão.

Tinha uma lírica a vontade. Em parte à lírica propriamente dita pode-se dizer que na Grécia apenas era ciência, se desenvolve com a Filosofia e é reduzida a cânon em Aristóteles.

 

[87v]

 

Platão cada movimento demanda pela reflexão. Todos sabemos o que é a linguagem sistémica. Os de menos cultura numerosos falam consigo às vezes alto; os adiantados falam d’1 modo puramente mental. Nós reconhecemo-nos nesses a voz. Nem sempre foi assim. Sócrates atribui–a ao seu demónio. O próprio Platão condena o pensamento que vem ao homem como apenas coisa que não depende da sua actividade. A ideia que a tradição conserva na palavra inspiração. Revelado 1 pouco na lógica, aparece nas da poesia ------

Na Ilíada há a luta de palavras entre Aquiles e Agamenon.

 

[88r]

 

Aquiles insulta Agamenon. A um certo momento Aquiles vai puxar da espada mas Minerva (†) sustem-lhe o braço. Isto que é pouco mais uma imagem serve com realidade para os gregos. Ajax e os carneiros. Aqui, vendo a figura que faz, há a situação dramática – aqui o suicídio (se fosse herói cómico acabaria em gargalhadas). Mas a morte vemos aqui[1] de Minerva como castigo.

A maneira como a despeito do poeta aparecem essas teses.

 

[1] aqui /loucura como cousa externa\

https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/5176
Classificação
Dados Físicos
Dados de produção
Português
Dados de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Palavras chave
Documentação Associada