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Fernando Pessoa
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BNP/E3, 14-3 – 66-67
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[Sobre a nova poesia portuguesa]
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
[Sobre a nova poesia portuguesa]
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 143 – 66-67]

 

Nos nossos anteriores artigos, estabelecido (1) o que era uma corrente literária, provámos (2) que a nossa actual[1] corrente literária era das máximas, sendo análoga, em todos os elementos discrimináveis como característicos das correntes máximas, a essas da Inglaterra e da França, e provámos mais (3) que essa corrente literária nossa estava ainda no princípio do seu segundo estádio – antes do momento em que as obras capitais do estádio apareçam, o que é bom que se anote, para que não se julgue haver retrocesso onde há apenas primordialidade.

Ficou isto determinado. Uma análise mais minuciosa, feita incidir sobre aquelas correntes estrangeiras, que para base analítica serviam, mostraria que em qualquer estádio de uma corrente literária, coexistem com os verdadeiros representantes desse estádio outros poetas, atrasados, representantes do estádio ou estádios anteriores da corrente. De tantos estádios quantos a corrente houver percorrido haverá sobreviventes, semimortos, gente do passado, vivendo par a par, parecendo vivos, com os verdadeiros representantes da corrente. Tomemos o caso do período isabeliano em Inglaterra. No estádio Shakespeare, que corresponde ao iniciado nosso, há poetas que ainda escrevem em estilo do tempo de Spenser, há-os mesmo que ainda escrevem no estilo anterior, dos precursores, † Waytt, Surrey.

 

[66v]

 

A primeira tarefa do raciocinador é determinar quais são os em-dia da corrente, quais os atrasados e a que período o seu atraso corresponde. Para fixar um caso é preciso atentar em como nasce a corrente literária dos períodos máximos – e talvez dos outros, mas só aquele é que nos importa, passada a análise entre ele e o nosso. A origem é tripla: (1) nas tradições máximas, (2) numa corrente estrangeira, (3) no sentimento directo da raça. No período percursor (Chaucer em Inglaterra principalmente) vem a influência estrangeira – no caso da Itália e, designadamente, de Boccaccio. O 1º estádio da corrente acumula sua influência com as das tradições nacionais. O 2º esmaga os 2 sob a do sentimento nacional, da raça. Nota-se sempre que o elemento estrangeiro, nas correntes máximas, pavorosa originalidade não influencia directamente e assim, para tomar o caso da Inglaterra o precursor Chaucer, escreve sob influência italiana, de Boccaccio, mas é original como escreve; Boccaccio não é poeta. – Depois, no 1º estádio, Spenser recebe sua influência com a das tradições nacionais, o que mostra o alvorecer do sentimento da raça, aparecido ainda, no alvorecer, à coisa mais concreta que a raça oferece – as tradições: daí a curiosa linguagem de um pensador antiquado, de Spenser. Finalmente, no 3º estádio do período, o sentimento da raça, absoluto já domina – desterra a dupla influência cujo {…} o desperta. É Shakespeare, fora de toda a tradição nacional.

 

[67r]

 

O paralelo no caso de Portugal é absoluto. Precursor, Antero mostra a influência alemã, mas mostra-a ao estímulo filosófico à poesia – não na poesia em si, que é original e própria. No 1º estádio, a obra culminante, a Pátria acumula a influência estrangeira – simbolismo – com a influência de tradição nacional – quinhentista – {…}. No 2º estádio, já a Oração à Luz repele todas as mistas influências estrangeira e nacional – é o espírito da raça puro e simples.

 

[67v]

 

O momento literário português mostra 3 grupos de poetas entre os quais é preciso destrinçar qual constitui a corrente propriamente dita, quais as atrasadas.

 

Fora da corrente verdadeira, não há corrente: há indivíduos, que se parecem por {…}

 

Ainda assim podemos dividi-los em 2 grupos: os antinacionais e os incompletamente nacionais.

 

 

[1] e que das correntes literárias havia 3 épocas, máxima, média e mínima

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Literatura
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