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Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP/E3, 14E – 44-45; 42
Imagem
Cesário Verde.
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
Cesário Verde.
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 14E – 44-45; 42]

 

Cesário Verde.

 

A imaginação de Cesário é nula. Não tem uma coisa que se possa chamar criação imaginativa. Nem uma imagem ou metáfora há na sua obra que se imponha como um golpe de sensação traduzida para poesia[1]. –

A sua inteligência é do mesmo modo nula. Não há nas poesias de Cesário uma ideia: bem sei que ao poeta não se exigem ideias. Mas isto é uma nota, não uma censura.

_______

A analogia entre Cesário Verde e Théophile Gautier é muito grande. A diferença também é nítida. Em ambos a imaginação e a inteligência nulas, – {…} e o cuidado da {…} forma.

 

[44v]

 

Gautier porém era mais um artista do que Cesário. Gautier era um pintor que pintava por palavras, com o temperamento exactamente preciso a um pintor e mais nada, a não ser a faculdade de escrever, e não pintar, o que ideava; como o pintor típico, Gautier não tinha imaginação propriamente dita, nem ideias, nem mesmo sentimentos. Nem mesmo estes. Pelo menos para fins artísticos, como artista, não os tinha. Os que tinha na sua vida particular nada nos importa. Em compensação o sentimento imaginativo da beleza, o sentimento sensacional do belo – o sentimento estético propriamente dito é grande em Gautier. É quase que a única e exclusiva linguagem num psiquismo para os efeitos de ser artista. Descreveu como artista, maravilhosamente, mas o mais objectivamente possível; é o temperamento do pintor.

 

[45r]

 

Um belo estilo porém exige que o fundo do psiquismo do seu autor tenha pelo menos do pintor a qualidade ou qualidades necessárias à produção de um belo estilo. Este é, a estas resumem-se, no sentimento de beleza. Isto quanto a fundo imaginativo. Mas este fundo imaginativo subentende e contende um fundo intelectual e um sentimental correlativos; porque o psiquismo é uno e relacionadas as suas expressões intelectual, sentimental e imaginativa. Ao sentimento (i.e. |ideação|) da beleza corresponde, necessariamente, no campo intelectual, {…}

 

E finalmente, quanto a sentimento, um só geralmente pode ter o esteta: o amor à vida, correspondentemente, o horror à morte.

 

[45v]

 

Cesário Verde não é bem um temperamento de esteta, tipicamente de esteta. Tem sentimento puro de mais, e |sentimento de beleza| a menos.

 

Cesário é um psiquismo muito mais curioso que Théophile de Gautier. Gautier é simplesmente o esteta típico; Cesário é qualquer coisa de mais individual.

 

Não é bem um esteta português – isto é, o esteta que, por ser de uma raça sentimental não pode nunca tipificar o esteta completamente. Essa apelação convém mais, por exemplo, a Eugénio de Castro. Cesário é outra coisa. É português mas limitadamente esteta.

 

[42r]

 

O sentimento estético não é grande em Cesário.

 

O sentimento é forte e sincero, mas reprimido: e é nisto que Cesário é curioso. É um português que reprime o sentimento. Tem-no, porque é um português, e um português sem sentimento é coisa que não se concebe.

 

 

 

[1] poesia /arte\ /imaginação\

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/3826

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
Notas à data
Datas relacionadas
Dedicatário
Destinatário
Idioma
Português

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Proprietário
Historial

Palavras chave

Locais
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Nomes relacionados

Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Cesário Verde, Cânticos do Realismo e Outros Poemas. 32 Cartas, Prefácio de Fialho de Almeida, Estudo crítico de Fernando Pessoa, Edição de Teresa Sobral Cunha, Lisboa, Relógio D’Água, 2006, pp. 233-234.
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