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Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP-E3, 19 - 56-57
Imagem
Erostratus (?)
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
Erostratus (?)
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[19 – 56-57]

 

Erostratus (?)

 

For Hamlet is, in a different way than was once thought, the essential figurement of his creator. He is a man too great for himself. Such was Shakespeare, such was Leonardo da Vinci. These men had too much soul for accomplishment. It is not the tragedy of inexpression, but the larger tragedy of too much capacity for expression and too much to express even for that capacity. No man reveals himself because he cannot; but men like Shakespeare and Leonardo do not reveal themselves because they can. They are prefigurements of some greater thing than man and are frustrate on the frontier. They are failures, not because they could have done better, but because they have done better. They have surpassed themselves and failed[1].

 

The lesser geniuses are haunted by their genius, and they are mediums who must be imperfect; but these are perfect mediums, yet {…}

 

To write great[2] prose a man must be a poet because a man must be a poet to write well at all.

 

[57r]

 

{…} our dear new friend, the corporative state…

 

{…} (what we Latins call composition)… never digressing – not even in digressions…

 

… The nobler Virgils receive no Maecenas.[3] The patron is a necessity not unlike the hackwork: either would be willingly discarded. And, in either case, there must be a capacity for the adaptation. The subtler Popes would not get a subscription for the Iliad which they would refuse to translate, for they might write it. The nobler Virgils get no Maecenas.

 

In every case, the nobler the genius, the less noble the fate. A small genius gets fame, a great genius gets obloquy, a greater genius gets despair; a god gets crucifixion.

 

The curse of genius is not, as Vigny thought, that it is adored but not loved; it is that it is neither loved nor adored.

 

Wilde was never so much attested a genius as when the man on the railway platform spat in his face when he was gyved. A great harm has come to many geniuses: their faces are unspat.

 

 

[19 – 56-57]

 

Heróstrato (?)

 

Pois Hamlet é, de um modo diferente do que outrora se pensou, a figuração essencial do seu criador. Ele é um homem demasiado grande para si próprio. Assim era Shakespeare, assim era Leonardo da Vinci. Estes homens tinham demasiada alma para cumprir. Não é a tragédia da inexpressão, mas a mais ampla tragédia de demasiada capacidade de expressão e do demasiado para exprimir mesmo para essa capacidade. Nenhum homem se revela a si próprio porque não consegue; mas homens como Shakespeare e Leonardo não se revelam porque conseguem. Eles são prefigurações de algo maior do que o homem e ficam frustrados na fronteira. São fracassos, não porque poderiam ter feito melhor, mas porque fizeram melhor. Ultrapassaram-se e falharam.

 

Os génios menores são assombrados pelo seu génio e são meios que devem ser imperfeitos; mas estes são meios perfeitos, contudo {…}

 

Para escrever boa prosa um homem deve ser poeta, porque um homem deve ser um poeta para escrever bem, de todo.

 

[57r]

 

{…} o nosso querido novo amigo, o estado corporativo…

 

{…} (o que nós latinos chamamos composição)… nunca divergindo – nem mesmo em digressões…

 

… Os mais nobres Virgílios não recebem nenhum Mecenas. O patrono é uma necessidade que não é diferente da do trabalho do escriba: ambos seriam voluntariamente descartados. E, em ambos os casos, deve existir uma capacidade de adaptação. Os mais subtis Popes não assinariam uma subscrição da Ilíada que se recusariam a traduzir, pois poderiam escrevê-la. Os mais nobres Virgílios não têm nenhum Menecenas.

 

Em todo o caso, quanto mais nobre o génio, menos nobre será o destino. Um pequeno génio alcança a fama, um grande génio alcança a infâmia, um génio ainda maior alcança o desespero; um deus é crucificado.

 

A maldição do génio não é, como Vigny pensou, que é adorado, mas não amado; é que não é nem adorado nem amado.

 

Wilde nunca foi tão considerado como um génio do que quando o homem na plataforma ferroviária lhe cuspiu na cara, enquanto estava acorrentado. Um grande mal ocorreu a muitos génios: as suas caras não foram cuspidas.

 

 

[1] failed /lost\

[2] great /good\

[3] The nobler Virgils receive no Maecenas. /(The nobler Virgils have no Maecenas.)\

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/2491

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
Notas à data
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Destinatário
Idioma
Inglês

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Entidade detentora
Historial

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Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Publicação parcial: Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho, Lisboa, Edições Ática, 1966, pp. 201-202.
Publicação integral: Fernando Pessoa, Heróstrato e a Busca da Imortalidade, edição de Richard Zenith, Lisboa, Assírio & Alvim, 2000, pp. 151-152; 191; 204.
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