[BNP/E3, 144 – 38]
EPISÓDIOS.
Os estudos, que reúno sob este título, são, ou, antes, representam, ensaios ou explicações que fui levado a escrever por circunstâncias externas, estranhas a minha vontade. É sabido que “episódio”, na linguagem tradicional em que se fala das epopeias, é aquilo que, num poema épico, não faz parte integrante do conjunto, mas nele se insere, seja para o diversificar, seja para estabelecer, por diversidade, uma passagem subtil de um elemento do entrecho para outro. Estes estudos não fazem, por serem de solicitação externa, parte integrante da minha intenção de escrever. De aí o título que lhes dei.
Não insiro neste livro, nem inserirei nos, de igual título, que porventura se lhe sigam, estudos que repudio, ou por erróneos, ou por imperfeitos e inaperfeiçoáveis, mas que foram “episódios” da minha vida de escrever na mesma maneira que estes. E estes mesmos, não os insiro tais quais os publiquei. Uns têm poucas emendas, outros muitas, outros são de todo diversos do que eram quando de facto os escrevi e publiquei. Alguns são fusões de estudos vários, e neste caso estão, particularmente, os dois primeiros.
Os estudos vão aqui publicados como hoje eu os escreveria, se tivesse hoje as mesmas solicitações externas que em cada tempo, que motivou cada estudo, eu tive.
Há, porém, mais uma razão para que a estes estudos deveras caiba o nome de “episódios”. Em cada estudo me servi do assunto dele para falar de outra coisa. A Nova Poesia Portuguesa – a que o era quando escrevi sobre ela na Águia – serviu-me de matéria para considerações sobre a relação entre a literatura e a vida social; estas considerações ficam independentes da justeza ou não-justeza da sua aplicação.
Assim podem estes estudos ter algum interesse quando o motivo deles o não tenha para o leitor. Quem se não interessar por Goethe pode, ao menos, sentir algum interesse pela teoria da iniciação.