[BNP/E3, 143 – 6]
História da Literatura Inglesa
Shakespeare geralmente acaba fracamente as suas tragédias, talvez por pressa. O caso é que a última cena, ou as últimas cenas das suas tragédias são confusas geralmente e nelas falha às vezes a psicologia, aliás tão segura, mas falha por {…} teatral. Assim, no “Otelo” o caso de Desdémona falar depois de estrangulada, e depois o facto de ser achada na algibeira de Rodrigo uma carta de Iago falando em matar Cássio, o que era impossível dado o carácter de Iago, cuidadoso até ao extremo.
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Não quer isto dizer que Shakespeare acabe mal as suas tragédias; mas sim que os finais destas são fracos em proporção ao resto delas. |Ninguém dirá que o final de Hamlet é digno da peça.| |O melhor final é o do Rei Lear.|
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[6v]
Em “Otelo” há a maravilhosa |intuição| psicológica dos caracteres de Otelo, Desdémona, Iago e Cássio e, secundariamente, o de Emília. A honestidade e lealdade, acompanhadas da pouca inteligência, de Cássio; o carácter vulgar mas tão bem descrito de Emília; a pureza meio tímida {…} de Desdémona e finalmente os dois estados sugestivos de Otelo e Iago, o primeiro com a sua lealdade, nobreza de sentimento, mas num assunto envenenado pelo ciúme {…}; o 2º figura épica na sua infâmia, com o seu {…} de todas as artes de enganar e trair que é impossível odiar, tanto nos interessa.
Hamlet é o drama mais intelectual de Shakespeare. Aí se encontram os conceitos em toda a sua força; o puro poder de expressão do Mestre em nenhuma outra peça se mostra tão perfeito e tão profundo.