Identificação
[BNP/E3, 14C – 25]
As obras de Caeiro estão como que presentes: (1) a reconstrução emotiva[1] da objectividade – (2) {…}
Espírito mais metafísico que lógico, e antes especulativo que construtivo, há nele falhas que denotam o ambiente em que viveu.
Nada há menos pagão que a agressão à religião católica… Para um pagão não há falsos deuses, nem crenças absurdas. Há tão-somente modos inusuais de os adorar. Não é pois no culto católico, com os seus deuses que sabe ou deve praticar saber, que um pagão tem que censurar o Cristismo. Nada o há menos que a sua indiferença pela comunidade, indiferença não filosófica (de hedonismo livre-pensador) senão instintiva, de indivíduo, não cristão, que se concebe oposto ao conjunto dos homens. (Certo é que, vivendo, apesar de tudo, mais do sentimento que da razão, porque mais dos sentidos que da coordenação das suas impressões, ele sente, menos a necessidade compreender a sociedade que o cerca, e o em que ele se distingue dela, que a só repugnância por ela).
[25v]
Reis é um Horácio grego que escreve em português.
A princípio não se verá bem em que é Reis discípulo de Caeiro, tal é na aparência, a inconveniência já de matéria, já de forma entre as duas obras. Dissemos, nós, porém, que a |obra| de Caeiro é tão-somente a reconstrução instintiva do objectivismo. O objectivismo em Reis é igualmente absoluto, igualmente vivido, não menos {…} Há apenas, que Reis regressa formalmente à Arte pagã, a cujas produções congéneres suas odes se assemelham. Não houvesse[2] Caeiro recreado o objectivismo, |que|[3] não pudera Reis tê-lo como fundamento de uma obra[4] de que ele se não revela como teoria, como em Caeiro, senão como práctica. A relação da teoria à práctica: eis a que há então entre as duas |artes|. Há por certo outras aplicações prácticas da sua teoria, como de uma mãe pode haver vários filhos; esta, porém, é uma aplicação, e de todo se conforma com a teoria |de que se serve|.
[1] emotiva /temperamental\
[2] houvesse/ra\
[3] |que|/e\
[4] obra /arte\