Editor da revista Portugal, «a Monthly Review of the Country, its Colonies, Commerce, History, Literature and Art», da qual saíram 8 números (n.º 1, Fevereiro de 1915). Editada em inglês, insere uma secção em português a partir do n.º 5. Com a publicação do n.º 8 (Outubro de 1916), a publicação é suspensa, devido à falta de capital e aos afazeres de Bentley, único responsável pela revista, de acordo com a nota explicativa aí inserida. A revista, conforme o subtítulo deixa pressupor, destinava-se a promover Portugal e as suas colónias junto dos ingleses, incluindo notícias sobre a história e o meio cultural português.

É a propósito de um artigo do diplomata brasileiro Oliveira Lima, no n.º 4 (Agosto de 1915), que Pessoa endereça uma longa carta a W. Bentley, protestando contra a falsa imagem que o articulista transmite da literatura portuguesa. Insurge-se, sobretudo, com a menção feita a Júlio Dantas, escrevendo: «Mencioná-lo numa dissertação sobre literatura portguesa é passar a si próprio um atestado de incompetência e incapacidade crítica» (Correspondência, vol. I, p. 200). Aproveita também para verrinar o espírito brasileiro, que tem por «hábito contra-producente manter-se em dia com o presente de há vinte anos». E, enceta, de seguida, uma lição sobre a génese da literatura nacional, colocando o seu real início em 1860, com Antero de Quental. Camões é referido como um poeta emotivo, «desprovido de todas as qualidades puramente intelectuais com as quais a poesia mais elevada – e a literatura mais elevada – é construída», sem profundidade nem intuição metafísica. A carta está inacabada, mas tem a ver, certamente, com o início de uma amizade com Bentley, o que pode ser confirmado por uma outra carta  de 1917, solicitando um encontro, e duas de 1924 e 1925, enviando e pedindo opinião sobre Athena. Nesta altura, Bentley encontra-se em Londres, talvez no cumprimento das suas funções de leitor de português no King’s College.

 

Manuela Parreira da Silva