(1802-1885)

Poeta, romancista, dramaturgo e pintor, é um dos autores de referência  da Literatura Francesa do Século XIX. A sua vasta obra, essencialmente inscrita no Romantismo, é também a obra de um visionário e de um sonhador, de um combatente pela liberdade e pela República, de um defensor do empenhamento social do poeta. As últimas palavras que escreveu, bem perto da morte,  resumem, de certa forma, a sua vida e a sua obra: «Amar é agir». Salientemos os seus livros de poemas Odes et Ballades (1828), Les Orientales (1829), Les Feuilles d’Automne (1831), Les Chants du Crépuscule (1835), Les Voix Intérieures (1837), Les Rayons et les Ombres (1840), Châtiments (1853), Les Contemplations (1856), La Légende des Siècles (1859); os romances Le Dernier Jour d’un Condamné (1829), Notre-Dame de Paris (1831) e Les Misérables (1862); as peças de teatro Cromwell (1827), Hernani (1929), Le Roi s’amuse (1832), Marie Tudor (1833), Ruy Blas (1838).

Pessoa não fica indiferente à importância de Victor Hugo. Sobre ele escreve alguns fragmentos, oscilando entre uma admiração contida e uma, por vezes, incontida discordância estética. Assim, dá-o como exemplo de um grande poeta, quanto à concepão, mas de uma «concepção apenas perfeita» (ESP.142-78). Aponta-o como representante do lirismo intelectual, que é «o que procede por antíteses, contrastes, modos de dizer epigramáticos» (ESP.142-17), mas, num texto de 1912 (?),  considera que «as constantes frases colossais» de Hugo «suprem o lirismo essencial, são o lirismo de superfície», pois o «verdadeiro lírico dispensa grandes frases, beleza de metáforas, imagens sublimes» (Obra Poética e em Prosa, III, p.169). Confessa, no mesmo texto, que «realmente causa certa inveja ver a extraordinária exuberância imaginativa» de um poeta como V. Hugo, mas, num apontamento solto, define a sua poesia como «a glorificação de lugares-comuns». E reconhece nele, num outro texto, «o grande defeito dos temperamentos retóricos: as ideias são nele momentâneas, são inspirações e não propriamente ideias», acrescentando, mais adiante, que é esse o mal de todos os inspirados, de todos os «videntes»: «não pensam, têm ideias». 

 

 

BIBL.: Fernando Pessoa, Obra Poética e em Prosa, I, II e III, ed. António Quadros e Dalila Pereira da Costa, Porto, Lello & Irmão, 1986.  

 

 

Manuela Parreira da Silva