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Medium
Fernando Pessoa
BNP/E3, 14-2 – 51
BNP/E3, 14-2 – 51
Fernando Pessoa
Identificação
[Sobre Friedrich Nietzsche]
Pablo Javier Pérez López, “Fernando Pessoa, el nietzscheano involuntário”, in Românica, nº 18, 2009, pp. 233-234.

[BNP/E3, 142 – 51]

 

{…} e convexo da mesma superfície curva. Quando a água passa, em temperatura, de 99 a 100 graus centígrados, converte-se em vapor: mudou de quantidade em temperatura, mudou de qualidade em estado, o fenómeno foi só um. No caso destes dois ideais, notaremos a sua identidade, não só pela de origem, em que já falámos, mas também pelo modo igual como se diferenciam do ideal apolíneo. Aquele é harmónico e natural, estes desarmónicos e místicos. Aquela assenta na aceitação da vida; estes, de um modo e de outro, na comum negação dela.

Não há caso mais notável dessa identidade que o de Nietzsche, de quem são as palavras apolíneo e dionisíaco, de que, com justificação independente, acabámos de fazer uso. Nietzsche tinha-se por dionisíaco, e, infelizmente para ele, o era. Não há mais claro exemplo do misticismo - na exaltação, na incoerência, no abandono de si, na mesma loucura terminal - que o daquele pseudo-pagão. Ele era, até, um místico cristão; simplesmente o era às avessas. O seu ódio aos cristãos o prova: é o ódio turvo, introvertido, de quem se sente igual aos que odeia.

Idênticos na matéria, estes dois ideais são contudo, não só diferentes, mas opostos, na forma: são, repetindo a imagem, como os aspectos opostos, o côncavo e o convexo, da mesma superfície curva. Para o dionisíaco a vida é estreita; para o cristão a vida é vil. Para um é uma {…}

 

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Classificação
Literatura
Dados Físicos
Dados de produção
Português
Dados de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Palavras chave
Documentação Associada
Pablo Javier Pérez López, “Fernando Pessoa, el nietzscheano involuntário”, in Românica, nº 18, 2009, pp. 233-234.