Arquivo virtual da Geração de Orpheu

Medium
Fernando Pessoa
BNP/E3, 14E – 23
BNP/E3, 14E – 23
Fernando Pessoa
Identificação
[Sobre Fausto Guedes Teixeira]

[BNP/E3, 14E – 23]

 

O sr. Guedes Teixeira é o poeta do arrependimento. Cada vez que faz um verso bem faz logo vinte versos maus, e melhora; e a seguir dez versos péssimos, e sossega.

Tanto quanto a um bom poeta é possível ser um mau poeta, é-o o sr. Guedes Teixeira. É-o mesmo muito mais do que esse tanto quanto.

É o pior grande poeta que conheço. Seria superior se não fosse tão inferior.

No que seja intensidade da emoção, directamente, quase imaterialmente dados, {…} poucos lhe sobrelevam {…}

 

É difícil dar ideia do que ele é e não é, sem parecer não estar dando ideia de nada.

Estes fragmentos de um grande poeta. De vez em quando, coincide que uma inspiração mais esquecida e que nasce no cérebro do sr. Guedes Teixeira, um desses fragmentos aponta-se para formar quase um nítido bocado de grande poeta. Mas dificilmente tem o pedaço formado mais que a duração de um soneto. Se os sonetos fossem de 15 versos, parece-me bem crer que {…}

 

[23v]

 

Não tem muito que dizer, e di-lo muitas vezes, e em outras poesias, e em muitos versos geralmente, em cada poesia. Há mesmo poesias dele em que se podia cortar 14 versos no {…} – são os sonetos.

 

 

Não andem por aí mentindo-o até o julgarem superior ou sequer igual ao poeta Correia de Oliveira ou a Teixeira de Pacoaes, para não falar em outros, inferiores a estes, ou mesmo acima ou iguais a eles {…}

Há um princípio, nosso, que por que não acha Guedes Teixeira igual a Guerra Junqueiro {…}

Ele igual a Junqueiro? Tomara ele ser[1] igual a si próprio?

(Isso era já tão suficientemente pouco)

 

 

[1] Tomara ele ser /Ele nem sequer é\

https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/3805
Classificação
Literatura
Dados Físicos
Dados de produção
Português
Dados de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Palavras chave
Documentação Associada
Pauly Ellen Bothe, Apreciações literárias de Fernando Pessoa, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2013, p. 273.