[BNP/E3, 14C – 64]
A Poesia Épica.
O “Paraíso Perdido” é considerado por consenso que, se não é universal, devia sê-lo, o segundo poema épico do mundo, sendo para muitos o segundo apenas porque no tempo não é o primeiro, isto é porque tem modelos.
É um poema frio e colossal. Avassala a imaginação; quando não a enche deslumbrando-a, ocupa-a {…}. Mas é um poema frio, sublime puramente pelo rasgo intelectual e imaginativo que representa. Na própria natureza do assunto está |isto| envolvido. Não é matéria em que se possa ser |fogoso| ou |ardente|. Não é matéria para sentimento. Por mais religioso e crédulo que um crédulo[1] seja, os combates dos anjos, o céu e o inferno, a tentação – o assunto todo enfim
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do “Paraíso Perdido” – não lhe podem ser objectos do sentimento propriamente dito. Podem apavorar, prender, torná-lo senão {…} mas comover verdadeiramente, fazer vibrar as íntimas fibras do coração – nunca. A sua natureza não é essa: os combates dos anjos no “Paraíso Perdido”, o inferno ali são coisas mais sublimemente concebidas que qualquer trecho dos “Lusíadas”, mas não tão sublimemente sentidos. Como a “Mistress” de Crowley, Segundo Johnson, citando Pope, a musa sublime de Milton “plays round the head but comes not at the heart”.
[1] crédulo /bom religioso e crédulo\