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Medium
Fernando Pessoa
BNP/E3, 14C – 64
BNP/E3, 14C – 64
Fernando Pessoa
Identificação
A Poesia Épica.

[BNP/E3, 14C – 64]

 

A Poesia Épica.

O “Paraíso Perdido” é considerado por consenso que, se não é universal, devia sê-lo, o segundo poema épico do mundo, sendo para muitos o segundo apenas porque no tempo não é o primeiro, isto é porque tem modelos.

É um poema frio e colossal. Avassala a imaginação; quando não a enche deslumbrando-a, ocupa-a {…}. Mas é um poema frio, sublime puramente pelo rasgo intelectual e imaginativo que representa. Na própria natureza do assunto está |isto| envolvido. Não é matéria em que se possa ser |fogoso| ou |ardente|. Não é matéria para sentimento. Por mais religioso e crédulo que um crédulo[1] seja, os combates dos anjos, o céu e o inferno, a tentação – o assunto todo enfim

 

[64v]

 

do “Paraíso Perdido” – não lhe podem ser objectos do sentimento propriamente dito. Podem apavorar, prender, torná-lo senão {…} mas comover verdadeiramente, fazer vibrar as íntimas fibras do coração – nunca. A sua natureza não é essa: os combates dos anjos no “Paraíso Perdido”, o inferno ali são coisas mais sublimemente concebidas que qualquer trecho dos “Lusíadas”, mas não tão sublimemente sentidos. Como a “Mistress” de Crowley, Segundo Johnson, citando Pope, a musa sublime de Milton “plays round the head but comes not at the heart”.  

 

 

 

[1] crédulo /bom religioso e crédulo\

https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/3220
Classificação
Literatura
Dados Físicos
Dados de produção
Português
Dados de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Palavras chave
Documentação Associada
Rita Patrício, Episódios - Da Teorização Estética em Fernando Pessoa, Braga, Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho, 2008 [cf. Rita Patrício, Episódios - Da Teorização Estética em Fernando Pessoa, Vila Nova de Famalicão, Húmus, 2012, pp. 411-412].