Arquivo virtual da Geração de Orpheu

Medium
Fernando Pessoa
BNP-E3, 19 - 87
BNP-E3, 19 - 87
Fernando Pessoa
Identificação
[Sobre os tipos de poetas]

 [19 – 87]

 

Compare-se o célebre dístico de Schiller com a Disp. em Fil. de Antero: o tema é o mesmo – o modo de tratar é que é diferente.

 

O inglês é intuitivo em tudo; o alemão pensador e reflectido. Veja-se, por ex., no espírito prático, como o inglês é espontaneamente e como que intuitivamente prático e comercial ao passo que o tudesco o é reflectidamente e {…}. (Ver indicações da verdade disto no panfleto sobre a Alemanha publicado pelo Daily Mail) A Alemanha nunca poderá ter um poeta dramático como Shakespeare nem um poeta filosófico como Wordsworth – nem, na verdade, como Antero – por isto que para ser um poeta dramático supremo é preciso ser um intuitivo e não um pensador consciente, como para ser um poeta metafísico – um bom poeta metafísico, entenda-se — é necessário ter uma constituição de místico, isto é, de intuitivo, ou então possuir, como o português, pela sua emoção constitucional, o poder de emocionalizar o pensamento, como o fazia Antero, que não era um intuitivo, mas um pensador e um sentimental; como, de resto, nos mostra a sua forte organização moral. Ora Wordsworth não era um sentimental; apenas o pensamento de todas as espécies se lhe apresentava intimamente sentimento – quer dizer, era um místico.

Emerson vê no Fausto de Goethe o defeito de ser muito “moderno”. Não é isso que ele sente; a interpretação é má. O que ele realmente sente é que o “Fausto” não é intuicionado completamente, mas, posto que inspirado, como todos os poemas, pensado e pensado demais.

 

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Classificação
Literatura
Dados Físicos
Dados de produção
Português
Dados de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Palavras chave
Documentação Associada
Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho, Lisboa, Edições Ática, 1966, p. 297.