1860 – 1940)

Ana Luísa Pinheiro Nogueira, tia materna de F. Pessoa, casa em 1889 com o engenheiro agrónomo João Nogueira de Freitas, de quem tem dois filhos, Mário Nogueira de Freitas (1891-1932) e Maria Madalena Nogueira de Freitas (1895-1978). Depois do seu regresso definitivo a Portugal, Pessoa passa alguns meses em casa desta tia, na Rua Passos Manuel, 24, 3º esq., instalando-se aí, de forma mais permanente, a partir de 1912. Em Abril (ou fins de Março) de 1914, mudam-se para a Rua Pascoal de Melo, 119, 3º dt., mas, em Novembro, a tia Anica parte para a Suiça, com a filha e o genro Raul Soares da Costa, engenheiro naval, que obtivera uma bolsa de estudos para aquele país.

O convívio continua, no entanto, entre sobrinho e tia, através da correspondência que mantêm regularmente. É conhecida uma longa carta de Pessoa, de 24-6-1916, na qual confidencia à tia Anica o facto de se ter tornado médium e de ser compelido à «escrita automática». Na realidade, existem no espólio pessoano muitas «comunicações mediúnicas», algumas já publicadas, que datam, em grande parte, de 1916. Mas a carta fornece outros dados, acerca da mediunidade de Pessoa, como, por exemplo, o facto de se ter tornado médium vidente, começando a ter o que os ocultistas chamam «visão astral», e também a chamada «visão etérica», que lhe permitia captar a «aura magnética» de algumas pessoas. Ficamos também a saber que Pessoa e a tia se dedicavam a sessões «semi-espíritas», onde o espírito do tio-avô Gualdino, marido da tia-avó Maria, por vezes, se impunha. E que o poeta pensa estar a ser iniciado, pelo «Mestre desconhecido», numa «existência superior» que, a breve trecho, lhe provocará um sofrimento muito maior do que até aí tinha tido, «e aquele desgosto profundo de tudo que vem com a aquisição destas altas faculdades» (Correspondência I, p. 218).

 

 

Manuela Parreira da Silva