A nossa tradição crítica moderna consagrou as designações de Primeiro e Segundo Modernismos. Já o mesmo se não passa com a de Terceiro Modernismo. A esta designação alude por mais de uma vez Óscar Lopes (Entre Fialho e Nemésio: p. 770 e Cifras do Tempo: pp. 88 e 91-92), associando-a quer aos anos 40 quer ao «heterogéneo vanguardismo do pós-Guerra» ou ainda ao Modernismo dos anos 40-50-60. Luís Adriano Carlos retoma a designação, desenvolve-a e vincula-a claramente à geração dos Cadernos de Poesia (“A Geração dos Cadernos de Poesia”, p. 240-242), que, no seu entender, pretenderia estabelecer um contacto directo com o Modernismo de Orpheu,  «sem a mediação interpretativa da Presença e contra uma certa desvalorização por parte dos neo-realistas». Embora os poetas que associamos aos Cadernos de Poesia realizem uma importante mudança no quadro de referências internacionais da nossa lírica modernista, seja por via do Modernismo anglo-americano ou do imagismo da Geração espanhola de 27 ou do interesse despertado pelas traduções de Paulo Quintela de Hölderlin e Rilke, a verdade é que os neo-realistas não podem ser excluídos da nossa tradição modernista, uma vez que é bem sabida a importância de que se revestiu o exemplo, para uns, do versilibrismo de Campos e Caeiro, e, para outros, de poetas do Segundo Modernismo, como Afonso Duarte, Miguel Torga ou Adolfo Casais Monteiro.

Seja como for, a nós se nos afigura, não obstante a necessidade de vincar a singularidade da Geração dos Cadernos de Poesia, ser discutível a introdução de uma nova categoria periodológica, parecendo-nos, antes, preferível sublinhar o que Manuel Antunes, num artigo dos anos 50, considerou ser a persistência do Modernismo na poesia dessa década (“Persistência do Modernismo”, p. 179-183), acrescentando-lhe a observação de Óscar Lopes relativamente a um Modernismo dos anos 40-50-60, e tendo também em conta ser hoje claro que esse paradigma modernista começa a entrar em crise na passagem para a década de 70, justificando, de algum modo, a referência, a partir de então, a uma nova categoria periodológica, o Pós-Modernismo.

 

 

Bibl.: LOPES, Óscar, Entre Fialho e Nemésio II, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985; ANTUNES, Manuel, “Persistência do Modernismo”, Legómena: Textos de Teoria e Crítica Literária, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1987; LOPES, Óscar, Cifras do Tempo, Lisboa, Editorial Caminho, 1990; CARLOS, Luís  Adriano, “A Geração dos Cadernos de Poesia”, in Vol. 7 da História da Literatura Portuguesa: As Correntes Contemporâneas, dir. Óscar Lopes e Maria de Fátima Marinho, 2002; MARTINHO, Fernando J.B., “Limites Cronológicos do Modernismo Poético Português”, in Largo Mundo Alumiado: Estudos em Homenagem a Vítor Aguiar e Silva, Vol. I, org. de Carlos Mendes de Sousa e Rita Patrício, Braga, Universidade do Minho, 2004.

 

 

Fernando J.B. Martinho