Fundada por Adolfo Rocha e Branquinho da Fonseca, a revista Sinal teve um único número, editado em Coimbra em Julho de 1930. Esse número foi o efémero lugar de afirmação daqueles dois dissidentes de Presença, logo após a cisão, ocorrida a 16 de Junho. Sem editorial, sem uma linha de rumo definida, composto exclusivamente por colaboração dos dois organizadores, Sinal não é mais do que um lugar de passagem: “sem rei nem roque”, como escreveram na carta de dissidência endereçada a José Régio, Adolfo Rocha e Branquinho da Fonseca lançaram-se à procura de novos caminhos poéticos, em ruptura com a direcção de Presença e com o seu magistério.
Miguel Torga evocaria muito mais tarde, no romance autobiográfico A Criação do Mundo, a experiência falhada da criação de uma revista independente: “(...) O primeiro número que apareceu foi um desastre. Era ingénuo e tumultuoso (...)” (A Criação do Mundo, “O Terceiro Dia”, Lisboa, 3ª ed., Publicações Dom Quixote, 1999, 243). Seis anos depois do lançamento de Sinal, a revista Manifesto – dirigida por Albano Nogueira e Miguel Torga, e com colaboração de Branquinho da Fonseca – teria já uma orientação mais amadurecida e uma maior consistência na defesa duma arte social, em oposição ao “subjectivismo macerador” e à “pertinaz atitude introspectiva” (as expressões são ainda de Miguel Torga, no romance autobiográfico acima citado) que caracterizaram a revista Presença. Quanto a Sinal, traz ainda vivas as marcas do imaginário presencista, sobretudo no “poema em um acto” Curva do Céu, de Branquinho da Fonseca (na realidade, um breve texto dramático, mais tarde incluído no volume Teatro). Além deste, Branquinho publicou em Sinal os poemas “Bairro Velho”, “Biblioteca” e “Mapa-Mundi”, e, com o pseudónimo António Madeira, os pequenos trechos em prosa “Velho Testamento”, “Indícios da Estátua”, “Wagon-lit” e “Desvirtuar”. Adolfo Rocha, que só em 1934, com a publicação do volume A Terceira Voz, adoptaria o pseudónimo Miguel Torga, colaborou em Sinal com poemas (entre os quais “Desaterro”, depois incluído no volume Tributo, de 1931) e páginas de prosa.
Bibliografia: Daniel Pires, Dicionário da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do Século XX (1900-1940), Lisboa, Grifo, 1996; Clara Rocha, Revistas Literárias do Século XX em Portugal, Lisboa, IN-CM, 1985.
Clara Rocha