(1888 – 1963)
Ramón Gómez de la Serna é a referência essencial da vanguarda espanhola. Um autor inclassificável, preocupado com as artes plásticas e inventor da “greguería”. Autor de uma prolífica obra novelística, escreveu também biografias, ensaios, dramas e alguns poemas. Foi o director por detrás da revista Prometeo, cuja actividade permitiu que chegassem a Espanha, em 1909, os postulados poéticos de Marinetti. Da sua vastíssima produção, podemos destacar três títulos: Pombo e La sagrada cripta de Pombo (1918 e 1924, respectivamente, dedicados ao café em que celebrou a sua tertúlia literária desde 1915) e Automoribundia, a sua extraordinária narrativa autobiográfica, de 1948.
Em 1915 descobre Portugal com a sua companheira sentimental, a escritora e jornalista Carmen de Burgos, Colombine, num episódio que Ramón relata no epílogo do livro de Colombine Peregrinaciones (1916). Em Pombo dedica várias dezenas de páginas a Portugal, nos capítulos “Cartas desde Portugal” e “Segundo viaje a Portugal”, onde aparece o nome, citado entre uma ampla lista de escritores encontrados à mesa de uma tertúlia lisboeta, de Fernando de Pessoa. Em La sagrada cripta de Pombo aparece uma fotografia da tertúlia do café Martinho, e o retrato de José Almada Negreiros.
No início dos anos vinte construiu uma casa (“El Ventanal”) no Estoril, onde pretendia estabelecer-se com Colombine. Ali passou longas temporadas nos anos seguintes, e escreveu livros como El novelista, Cinelandia, Falsas novelas e La Quinta de Palmyra, uma novela de ambiente claramente português. No entanto, em meados dessa década tiveram que vender a casa devido a problemas económicos, e a sua biblioteca foi oferecida a diversos alfarrabistas portugueses. Nos anos vinte tornou-se amigo de, pelo menos, três activas personagens do mundo cultural luso: o arquitecto e desenhista José Pacheko (a sua assinatura aparece nos números 3, 5 e 7 da revista Contemporânea, entre Julho de 1922 e Janeiro de 1923), José de Almada Negreiros (a quem dedica em 1927, na revista La Gaceta Literaria de Madrid, o texto “El alma de Almada”) e António Ferro, que foi, provavelmente, o seu amigo português mais íntimo, e que mostra a sua sintonia com o espírito da greguería em livros como Leviana (cuja edição de 1929 tem um prólogo de Gómez de la Serna) ou Teoria da indiferença, além de prologar a tradução portuguesa da novela A Ruiva, de Ramón.
BIBL.: Sáez Delgado, Antonio, Órficos y Ultraístas. Portugal y España en el diálogo de las primeras vanguardias literarias (1915-1925), Mérida, Editora Regional de Extremadura, 2000; Martins, Fernando Cabral, “A cidade mágica portuguesa”, in Marginálias, Bedeteca de Lisboa / Assírio&Alvim, 2004, pp. 15-20.
Antonio Sáez Delgado