(1891 – 1969)

O médico e poeta espanhol Rogelio Buendía transitou, na sua obra literária, do modernismo hispânico inicial de obras como Nácares (1916) até certo surrealismo de finais dos anos vinte (Naufragio en tres cuerdas de guitarra, de 1928, ilustrado por Dalí), atravessando o ultraísmo (La rueda de color, 1923) e o Veintisiete (Guía de jardines, 1928). Participou activamente em algumas das revistas importantes da vanguarda espanhola, como Grecia (de que foi redactor), Centauro, Papel de Aleluyas ou Meridiano (foi director ou co-director das três).

Publicou também uma novela curta, La dorada mediocridad (1923), que talvez tenha chegado às mãos de Fernando Pessoa, e o livro de viagens Lusitania (1920), que tem como subtítulo Viaje por un país romántico, em que narra em tom iberista uma viagem realizada em 1918, entre o Algarve e Coimbra, detendo-se num encontro com Eugénio de Castro, cuja admiração deveu a Miguel de Unamuno.

Rogelio Buendía colaborou nos números 3 e 5 (de Julho e Novembro de 1922) da revista Contemporânea, com um poema intitulado “Canción de España a Portugal” e os fragmentos iniciais de “Satyrion”, respectivamente.

Conhecemos três cartas enviadas por Fernando Pessoa a Rogelio Buendía (datadas dos dias 20 de Agosto, 3 e 15 de Setembro de 1923), que têm dois motivos essenciais: em primeiro lugar, o comentário do livro La rueda de color, remetido pelo poeta andaluz a Pessoa; em segundo lugar, as explicações que oferece acerca da tradução que Buendía e a sua mulher realizam de alguns poemas ingleses de Pessoa. Não conservamos as cartas remetidas pelo escritor espanhol a Pessoa, numa das quais lhe enviou um artigo de Adriano del Valle publicado no diário sevilhano La Unión em Setembro de 1923, intitulado “En torno a La rueda de color. Opinión de un poeta portugués sobre un libro de Rogelio Buendía”, em que Adriano se refere ao seu contacto com Pessoa e traduz para espanhol os fragmentos mais notáveis da carta que Pessoa escreve a Buendía comentando o seu livro.

Rogelio Buendía foi, tanto quanto se sabe até ao momento, o primeiro tradutor de Fernando Pessoa em Espanha. Nas páginas do jornal de Huelva La Provincia ofereceu versões em castelhano de Eugénio de Castro, Camilo Pessanha ou Judith Teixeira, e publica, no dia 11 de Setembro de 1923, cinco fragmentos (V, VII, VIII, XII y XIII) das Inscriptions pessoanas, numa tradução que realiza com a sua esposa, de educação inglesa.

Na carta de Pessoa de 15 de Setembro, refere-se a uma possível conferência de Buendía em Lisboa, e responde a uma pergunta de Buendía acerca de António Botto, o que nos indica que existiu algum contacto entre eles, possivelmente por via da amizade comum com Adriano del Valle.

 

Bibl.: Sáez Delgado, Antonio, “Inscriptions. Rogelio Buendía, primer traductor de Fernando Pessoa en España”, in Ínsula nº 635, Madrid, Espasa-Calpe, 1999, pp. 3-4; Sáez Delgado, Antonio, Órficos y Ultraístas. Portugal y España en el diálogo de las primeras vanguardias literarias (1915-1925), Mérida, Editora Regional de Extremadura, 2000.

 

Antonio Sáez Delgado