Com o subtítulo Mensário para Arte, para Literatura, para Vida Mental (9 n.ºs, Lisboa, 1918- 1920). Dirigida por Humberto Pelágio (director artístico) e José Gomes Ferreira (director literário), a Ressurreição é, nas palavras deste último, em A Memória das Palavras, uma «revista-armazém-de-sonhos» juvenis, devedora do «epigonismo saudosista», então dominante. Foi apadrinhada por professores de Gomes Ferreira no Liceu de Gil Vicente, a começar por Leonardo Coimbra, sendo alguns deles colaboradores efectivos, como Newton de Macedo, Câmara Reys ou Ângelo Ribeiro. Beneficiou do patrocínio do pai, Alexandre Ferreira, que, em sociedade com o jornalista Santos Vieira, fundou a Orbis, editorial do mensário, com logotipo de Stuart de Carvalhais. Graças à intermediação paterna, a revista publicou o soneto inédito de Fernando Pessoa «Abdicação» (1913), no seu último número. A colaboração pessoana (de nítido eco anteriano) não implica, todavia, uma afinidade da revista com o abalo modernista: nela é constante a tónica neo-romântica de jovens autores (caso de José Gomes Ferreira ou Castelo Branco Chaves) ou de consagrados, como Augusto Gil ou João de Barros. Assim o confirma também a homenagem, no nº. 6, a António Nobre, de quem se publicam o fac-símile de uma carta e duas fotografias.

Além da literatura, a revista trata da actualidade teatral (Chianca de Garcia) e das artes plásticas, destacando-se, no nº. 7, a opinião corrosiva de H. Pelágio sobre a rotina academista de uma exposição promovida pela SNBA. No domínio da ilustração, são de relevo as ilustrações/vinhetas de Saavedra Machado, Alberto de Sousa, Stuart de Carvalhais e H. Pelágio. Sobre música escreve Gomes Ferreira (na altura, dedicado a uma efémera carreira de compositor e pianista), devendo-se-lhe certamente a publicação, em separata do nº. 8, de «Melancolia op. 25», do compositor David de Sousa. Definida pela poética neo-romântica e pelo ideário republicano, a Ressurreição evidencia o bloqueio intelectual e estético de uma jovem geração, empenhada em defender e revigorar o regime, como o faz Gomes Ferreira, em «A Mocidade e a Ideia Nova» (nº. 5), onde aclama a vitória sobre a sublevação monárquica de 1919.

                       

BIBL.: José Gomes Ferreira, A Memória das Palavras I ou o Gosto de Falar de Mim, Lisboa, Dom Quixote, 1991 (cap. IV).

 

 

Carina Infante do Carmo