Revista publicada em Lisboa em 1914, dirigida por Francisco dos Santos-Viegas e com orientação gráfica de António Soares – bem visível na originalidade e apuro do conjunto. Vem no n.º 2 “Certa Voz na Noite, Ruivamente…”, um dos poema de Mário de Sá-Carneiro que hão-de fazer parte de Indícios de Oiro, e um pequeno conjunto de poemas em prosa de Almada Negreiros, “Silêncios”, com ilustrações de Rodriguez Castañé, da mesma série dos “Frisos”que saem no ano seguinte no Orpheu 1, e ainda um poema de um obscuro Alípio Castro d’Ayre, “Madrugada”, subintitulado “Poesia Futurista”, que exibe com muita exactidão a entorse semântica que a palavra “Futurismo” tem nas letras portuguesas das primeiras décadas do século XX, e que refere um certo tipo de Simbolismo caricatural. No caso deste poema, por exemplo, lêem-se versos como «Fios esguios, fuzis, / Ritmos imperceptíveis, sons divinos / Hinos rítmicos, rios, linhos finos, / Escala cromática d’is», ou «Lina, sina, fina crina / Cruel, painel da ilusão».

 

 

Fernando Cabral Martins