Personalidade literária de Fernando Pessoa dos primeiros tempos, colabora no jornal manuscrito O Palrador  (n.º 5, 1.º ano – 1902 – 22 de Março), assinando uma charada e as quadras humorísticas «Os Ratos», sobre «Quatro ratinhos valentes» que vão morrendo com os produtos adulterados de uma mercearia: «Despertaram certo dia/ Com vontade de comer,/ E logo à mercearia/ Dirigiram-se a correr. // O primeiro, o mais ladino,/ À crua salsicha saltou,/ E um bocado pequenino/ Dessa salsicha papou. // Eu choro do rato a sina,/ Que a tal salsicha matou,/ Por causa da anilina/ Com que alguém a colorou. // (...) O segundo, coitadinho,/ À farinha se deitou,/ (...) O terceiro, p’ra seu mal,/ Gotas de leite sorveu,/ (...) O quarto, desconsolado,/ A negra morte buscou,/ E julgou tê-la encontrado,/ Quando veneno encontrou. // E sorvendo sublimado,/ Enquanto este gastava,/ (Agora invejo-lhe o fado),/ O feliz rato engordava. // É só cá neste terreno,/ Que caso assim é passado – / Até o próprio veneno/ Já fora falsificado!»

 

 

Manuela Parreira da Silva