(1048–1131)

Nome abreviado por que é conhecido o cientista e poeta persa Gheias ad-Din ol-Fath Umar Ibrahim ol-Khayyámi: (Khayyámi significa “fabricante de tendas” e tomou-o da actividade económica de seu pai). Teve uma educação e estudos aprofundados em ciências, humanidades e filosofia, tendo frequentado as melhores escolas e academias na sua cidade natal, em Balk e em Samarcanda. Distingui-se marcadamente em matemáticas, astronomia e filosofia. Em Samarcanda concluiu, redigido em árabe, o seu notável Tratado de Álgebra: (reproduzido e traduzido em francês, em Paris, em 1851). A convite do sultão Malik Shah foi cabeça da equipa que preparou a reforma do calendário introduzida em vigor em 15 de Março de 1079 e notavelmente precisa. Igualmente ao serviço da corte de Malik Shah, com outros astrónomos eminentes, foi levantado e instalado um observatório astronómico na cidade de Isfahan. A morte de Malik Shah em 1092 restringiu a época dos grandes empreendimentos científicos. Como poeta, os seus contemporâneos nada dizem. Só no fim do séc. XII, cerca de sessenta anos após a sua morte, o historiador Shahrazuri o classifica de “poeta em árabe e em persa” e posteriormente alguns “ruba’is” (quartetos) aparecem citados como seus em obras entre o século XIII e meados do século XV. Colecção importante é a do manuscrito pertencente à biblioteca bodleiana de Oxford, datado de 1460, contendo 158 “ruba’is”. (Ver “ruba’iyat”). Fernando Pessoa em várias listas de projectos de publicações, quer de obras suas, quer de traduções suas, inclui o Rubaiyat de Omar Khayyám. Arnaldo Saraiva em Fernando Pessoa Poeta - Tradutor de Poetas. Os Poemas Traduzidos e o Respectivo Original (Lello Editores, 1996,Porto) dá essa presença nas listagens (Espólio de Fernando Pessoa na Biblioteca Nacional) com as cotas E3/48- 4r e 5r e E3/48-12r; igualmente surge nas listagens em E3 /59-45r, E3/48B-34 e E3/48B-35. Em vida publicou Fernando Pessoa dois testemunhos, criativos, referindo “Ruba’iyat” e Omar Khayyám. Em 1926 saiu, na Contemporânea, 3ª série, nº 3, um “Rubaiyat” (assim titulado), e assinado sob seu nome, composto de três “ruba’is” e em 1929, em A Revista da”Solução Editora”, nº 4, p. 42, um fragmento com o título “Outro Trecho do «Livro do Desassossego», composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa” e assinado, ao fundo, Fernando Pessoa: alude, sem o nomear, a Omar Khayyám e o seu “Ruba’iyat” no último parágrafo. Cito: “No proprio registro de um tecido que não sei o que seja se me abrem as portas do Indo e do Samarcanda, e a poesia da Persia,  que não é de um logar nem de outro, faz das suas quadras, desrimadas no terceiro verso, um apoio longínquo para o meu desasocego. Mas não me engano, escrevo, sommo, e a escripta segue, feita normalmente por um empregado d’este escriptorio.” Fragmentos referindo Omar Khayyám foram publicados postumamente nas três primeiras edições referenciais do Livro do Desassossego: Ática, 1982; Editorial Presença, 1990; Assírio & Alvim, 1998.

 

BIBL.: Ruba’iyat of Omar Khayyám, translated and annotated by Ahmad Saidi, Asian Humanities Press, Berkeley, 1991, pp 1-37; Halima Naimova, “Omar Khayyám e o Rubai”, em Fernando Pessoa, Canções de Beber, Assírio & Alvim, 2003, pp. [45]- 48.

 

Maria Aliete Galhoz