Em Fevereiro de 1931, são publicadas na presença 30 as cinco “Notas para a Recordação do Meu Mestre Caeiro. Algumas Delas”, assinadas por Álvaro de Campos. Constituem uma escolha de um conjunto maior de fragmentos, que é enviada por carta a João Gaspar Simões de 4 de Janeiro de 1931. Noutra carta anterior, a 3 de Dezembro de 1930, anuncia as “Notas”, que«são a meu ver das melhores páginas do meu engenheiro». De facto, a sua escrita ocorre entre 1929 e 1932, e é, pois, contemporânea do «nascimento» e primeira publicação de Bernardo Soares (e duma explosão da escrita em prosa na obra de Pessoa), apesar deste dito «semi-heterónimo» não participar em nenhuma das visitas ao mestre.

A terceira carta em que cita as “Notas” é a de 28 de Julho de 1932, quando congemina hipóteses para a publicação das suas obras, uma delas sendo «Poemas Completos de Alberto Caeiro (com o prefácio de Ricardo Reis, e, em posfácio, as “Notas para a Recordação” do Álvaro de Campos)» (C II 269). Num plano de O Regresso dos Deuses, que foi um dos vários títulos gerais que pensou para a publicação completa dos heterónimos, as “Notas para a Recordação” também viriam no volume dedicado a Alberto Caeiro, igualmente prefaciado por Ricardo Reis. O volume de Ricardo Reis intitular-se-ia Odes, e o volume de Álvaro de Campos, nesse projecto de publicação, chamar-se-ia Acessórios (Pessoa por Conhecer 390).

A primeira edição completa e autónoma do conjunto das Notas para a Recordação do Meu Mestre Caeiro tem lugar em 1997, organizada por Teresa Rita Lopes, aí contendo um total de 22 fragmentos. Consistem em relatos dos encontros e conversas entre os três heterónimos principais, mais António Mora e, ainda, Fernando Pessoa, que se vê promovido a parte integrante da sua própria família imaginária. Para além de muitos pormenores biográficos sobre as várias figuras inventadas, há vários questionamentos da atitude poética de Alberto Caeiro, ou discussões, na antiga tradição dos diálogos filosóficos, sobre temas que também se encontram na sua poesia. O tom geral é ilustrativo da relação de discípulos que todos assumem perante o Mestre, e constitui uma peça narrativa essencial sobre o jogo poético dos heterónimos.

 

 

 

Fernando Cabral Martins