Pouco conhecido no meio literário português, torna-se digno do maior apreço de Pessoa, a partir dos dois artigos com que participa no «Inquérito Literário» organizado por Boavida Portugal no jornal República, entre Setembro e Dezembro de 1912 (mas que, num rascunho inédito de uma carta a Boavida, Pessoa diz ter sido uma ideia sua). Faz-lhe, por esses dois artigos, elogiosas referências na recensão crítica (O Jornal, de 4-4-1915) à edição que reúne os vários depoimentos, bem como todas as réplicas e comentários por eles sugeridos, que o organizador fizera sair nesse mesmo ano. Considera aí que as intervenções de Manuel António de Almeida constituíram «tanto em ideia como em forma, uma lição à maioria dos depoentes». Também em carta a Sá-Carneiro, conforme a resposta deste, de 16-11-1912, deixa perceber, destacara a sua «interessantíssima exposição». E num apontamento muito posterior (E3 142-95v), define-o como «um dos mais altos espíritos críticos que temos», acrescentando que este lhe propusera, havia muito tempo, a publicação de uma revista com o título de Byzancio, «onde se tratassem com subtileza e profundidade só assuntos absolutamente fúteis», e que nunca esquecera esta proposta, «que só poderia ser formada por um espírito feito pelo melhor da cultura universal». Diz ainda Pessoa que continuam os dois a manter a ideia e a esperança de poderem realizar, um dia, «esse grande sonho humanista». Como se vê, Pessoa acabara por conhecer pessoalmente Manuel António de Almeida, conforme anota, aliás, no seu diário, em 19 de Março de 1913, precisando que este lhe fora apresentado por Boavida Portugal na redacção do Teatro. É, de resto, nas páginas desta revista, Teatro – Revista de Crítica, dirigida por Boavida Portugal, que Manuel António de Almeida colabora, ao lado do próprio Fernando Pessoa, em Março de 1913, com «Paradoxos Teatrais» (nº 2) e «Prática que foi feita aos devastadores da floresta» (nº 3).
Manuela Parreira da Silva