Personagem das novelas policiárias de Fernando Pessoa, da série Quaresma, Decifrador. Segundo o «Prefácio a Quaresma», surge, pela primeira vez, em O Caso Vargas, quando era ainda agente. Vem dessa altura a sua amizade por Abílio Quaresma, a quem serve de contraponto. Manuel Guedes é o Chefe Guedes, da Polícia de Investigação Criminal, a P.I.C. Tem o seu gabinete no Governo Civil, de onde parte para a Rua dos Fanqueiros, onde Quaresma reside, levando-lhe uma das suas charadas da vida real. É descrito como tendo uma corpulência sem gordura e um olhar moreno fitando baço por cima do bigode curto e farto. Tem uma dureza latente nas feições. É conhecido desde os bancos da escola de Investigação Criminal por «O Guedes Bruto», devido aos seus modos bruscos e frontais e à ocasional obscenidade que deixa escapar quando sai fora do dicionário. É frequentemente apresentado em movimento, constituindo, por isso, o oposto do raciocínio estático de Abílio Quaresma. O seu papel nas novelas consiste em recolher as informações que transmite fielmente ao Dr. Quaresma, com sequência, clareza e precisão e uma memória quase fotográfica para as descrições. O Tio Porco, personagem da novela A Janela Estreita, classifica o seu tipo de inteligência como uma inteligência científica, isto é, a que examina os factos e tira deles conclusões imediatas, a que observa e determina, pela comparação das coisas observadas, o que vêm a ser os factos. Na exposição final do seu raciocínio, Quaresma tem usualmente Guedes com interlocutor, interrompendo com as suas perguntas e reacções o que, de outro modo, seria um longo monólogo. Em “Prefácio a Quaresma”, o autor afirma que a memória de Guedes será um dos esteiros destas narrativas, pois caber-lhe-á a tarefa de seleccionar os relatos que melhor demonstrem o valor do seu amigo. Na personagem Manuel Guedes, descrita como o nobre bruto policial, atento valoroso e amigo, encontramos uma variante pessoana da figura do amigo do detective presente em muitas ficções policiais.
Fernando Pessoa, Quaresma, Decifrador, ed. Ana Maria Freitas, Assírio &
Alvim, Lisboa, 2008.
Fernando Luso Soares, A Novela Policial-Dedutiva em Fernando Pessoa,
Editora Diabril, Lisboa, 1976.
Ana Maria Freitas