(1857–1923)

Psiquiatra português, director de Rilhafoles entre 1910 e 1923, e primeiro professor de Psiquiatria das Faculdades de Medecina do Porto e de Lisboa após a reforma do ensino em 1911. Tanto o seu livro sobre A Loucura (1889) como os seus Elementos de Psiquiatria (1911) interessaram Fernando Pessoa que, citando passagens do primeiro, as chega a considerar «the best and clearest on the subject» (Fernando Pessoa, Escritos sobre Génio e Loucura, p. 277). Embora respeitando Júlio de Matos no âmbito da sua especialidade, Fernando Pessoa critica a intromissão do psiquiatra no meio literário. Em primeiro lugar, aquando do Inquérito Literário de Boavida Portugal (República, Set./Dez. 1912) onde, à questão da existência de «uma renascença literária em Portugal», Júlio de Matos responde negativamente considerando que os poetas d’A Águia «só cantam tristezas» e «mágoas» e «descendem de uma fase de decadência»: «O Sr. Júlio de Matos leu poesias do novo movimento português», «viu misticismo» que, «para o psiquiatra […] é um estigma psíquico de degenerescência, característico especialmente da literatura dos degenerados» e «como a degenerescência […] é com certeza um fenómeno de depressão vital», «uma associação de ideias de psiquiatra […] levou-o a ter depressão» (Fernando Pessoa, Op. Cit., pp. 382-383). Na recensão à publicação em livro do Inquérito Literário, Fernando Pessoa considera ainda ter sido um erro «de pura malícia […] o de ir consultar o Dr. Júlio de Matos, incompetência notável nestas coisas que se não regram por Tanzi ou por Régis» (O Jornal, 4/4/15). Em segundo lugar, Pessoa reagirá à entrevista de Júlio de Matos no jornal A Lucta (11/4/15) acerca da suposta loucura dos poetas de Orpheu: «Os nossos psiquiatras estudaram psiquiatria», ora «para dar uma opinião sobre literatura, parece […] que era mister que tivessem estudado – não psiquiatria, que só os habilita a opinar sobre psiquiatria – mas literatura» (Fernando Pessoa, Op. Cit., p. 398).

 

Sara Afonso Ferreira