(1864-1926)

Filho de emigrantes judeus russos, de nacionalidade inglesa. Foi romancista, contista, dramaturgo, ensaísta, poeta e jornalista. Combateu pela melhoria de condições de vida das populações das zonas pobres de Londres, pela fundação do estado judaico, pelo direito das mulheres ao voto e pelo pacifismo. Retratou a vida no East End e a comunidade anglo-judaica. Colaborou em vários jornais e fundou o jornal humorístico Ariel. The Big Bow Mystery (1892), a sua única experiência no género, ficou para a história do policial. Conforme narra o próprio autor, no prefácio à edição de 1895, a história foi escrita em duas semanas, em resposta a um pedido do editor do jornal Morning Star que pretendia animar as vendas durante a silly season. O sucesso foi imediato. The Big Bow Mystery passa-se no East End de Londres, meio a que as suas personagens pertencem e que Zangwill retrata com humor e ironia. Se neste aspecto o autor se afastou do modelo estabelecido por Poe, noutros mantém-se fiel às convenções do género: cria o crime perfeito, um assassinato num quarto fechado, e o criminoso, revelado no último momento, é a personagem mais improvável. Com esta obra, Zangwill deu origem a um novo tipo de crime em quarto fechado que outros autores vieram a imitar: a vítima, adormecida ou drogada, é rapidamente apunhalada ou degolada pela primeira pessoa a entrar num espaço fechado, que coloca disfarçadamente a chave no interior e convence os acompanhantes que se deu um suicídio. Um dos autores a inspirar-se no esquema de Zangwill foi Fernando Pessoa, que conhecia esta obra (refere-a numa das suas listas). A sua novela policiária, Quarto Fechado, da série Quaresma, Decifrador, segue este esquema, repetindo a situação inicial. Um homem aparece degolado num quarto fechado de uma pensão lisboeta. A chave parece estar no interior e, quando hóspedes, o gerente e criados conseguem abrir a porta, deparam com um homem deitado na cama, com a garganta cortada. A partir deste início e da forma com o mistério do quarto fechado se constrói, a novela afasta-se do romance de Zangwill.

 

Espólio de Fernando Pessoa na Biblioteca Nacional – E3

Crime Fiction, ed. Martin Priestman, Cambridge, Cambridge University Press,

2003.

The Oxford Companion to Crime & Mystery Writing, Oxford, Oxford University

Press, 1999.

 

Ana Maria Freitas