Publicação de que surgem dois números em Lisboa, 1924, dirigida por Augusto de Santa-Rita, e em que colaboram, além de nomes grados como Gomes Leal, António Nobre ou Eugénio de Castro, os contemporâneos Branca de Gonta Colaço, Virgínia Vitorino, Fernanda de Castro, Afonso Lopes Vieira, Pessoa. Este último publica Canção, um poema ortónimo cuja ascendência poética simbolista é visível logo no primeiro verso: «Silfos ou gnomos tocam?....». Cada número é constituído por folhas soltas de cartolina de colorações diversas, sobre as quais se colam duas gravuras em papel branco, uma com o retrato do autor e outra com o poema, sempre autógrafo, e com o carimbo da revista e a legenda impressos. O conjunto parece ser uma exposição possível de pranchas, ou colecção de objectos de decoração. No índice, que tem a particularidade de consistir em breves apresentações dos poemas, no caso de Pessoa lê-se: «Visão retrospectiva. Janela aberta para dentro».

Notando o apuro gráfico da capa, com cruzes de Cristo à mistura com motivos florais, percebe-se que o nacionalismo é a atmosfera geral da revista, o que ainda se torna mais explícito pelo tom da apresentação assinada pelo director, por exemplo nesta passagem: « – Hora de renascimento de que é ainda sintoma a conjugação de tantos valores num mesmo determinado sentido nacionalista, cuja evidência só não atingirão os cegos de nascença, que nunca viram um raiar de manhã». Um exemplo, pois, de um tipo de Modernismo que é mais decorativo que outra coisa, em termos de arte, e parece augurar uma solução política autoritária, travestida de “renascimento”.

FCM