Personalidade fictícia, criada por Pessoa, a quem este atribui um texto em inglês (PPC 240-242), no qual faz o retrato do seu criador. Confessando-se seu sincero amigo, considera-o «o maior sonhador de todos os sonhadores», «incompetente» para lidar com a realidade, preso «de uma timidez mórbida e infantil ou de uma audácia impetuosa e trôpega», alguém que inspira piedade e oscila «entre um anarquismo excessivo e a arrogância de um perfeito aristocrata», e a quem a expressiva palavra portuguesa «coitadinho» facilmente se aplicaria. Wyatt lembra a frase que, um dia, um barbeiro vizinho usou, a seu respeito: «mais lhe valia ser doido; teria sido melhor para ele». Para além deste retrato do seu amigo português, Frederick Wyatt (estrangeiro a viver em Portugal…) surge, num plano de obras para o ano de 1913, como autor de poemas. E, curiosamente, num caderno datável de 1914-1915 (E3 144P), são-lhe atribuídos cerca de vinte poemas em inglês, cujos títulos (The Game, Little Bird, Sunset Song, Requiescat, The Last of Thins, Was, entre outros) remetem todos para composições, datadas de 1907 e 1908, atribuídas a Alexander Search, e, como tal, incluídas num volume de poesia desta personalidade literária (AS). Significará isto, então, que Pessoa resolveu, seis ou sete anos depois de os ter composto, reavaliar a atribuição da autoria dos citados poemas, planeando publicá-los sob o nome de Wyatt, conforme o documento do espólio permite concluir, já que, a seguir a cada título, está indicado o número de páginas de cada poema . Frederick tem também pelo menos dois «irmãos», de que não se conhece qualquer obra: Alfred Wyatt, com morada em Paris (14, Rue Richet), conforme esboço existente no espólio pessoano; e o Rev. Walter Wyatt, também designado por Sir no mesmo esboço.

 

 

Manuela Parreira da Silva