1888-1957)

Judeu russo, nascido em Lugansk, emigrado em Lisboa, praticava o naturismo e o vegetarianismo,  É precisamente desempenhando o seu próprio papel de hóspede vegetariano e excêntrico de uma pensão lisboeta que Kamenesky participa como actor no filme O Pátio das Cantigas de Francisco Ribeiro (1942). Tornou-se amigo de Pessoa, provavelmente a partir do conhecimento que terão feito na Livraria Biblarte, que frequentava com assiduidade e que era propriedade do próprio Eliezer Kamenesky. Pessoa aceita prefaciar um seu livro de poemas, Alma Errante, em 1932. Mais relevantes, sem dúvida, do que os versos «infantilmente sinceros» de Kamenesky, feitos de «uma poesia própria, independente da poesia que é propriamente poesia», são as longas considerações que Pessoa tece sobre o povo judeu. Assim, refere-se às diferentes formas que toma a idealidade judaica: o patriotismo tradicionalista, a especulação cabalística e o idealismo social, em que integra o igualitarismo e o naturismo. Questiona certas acusações de que são alvo os judeus, como por exemplo, o de terem criado a Maçonaria, através da Rósea Cruz,  aproveitando para explanar as suas origens. E discute também o idealismo social dos judeus, constituído, como diz, «em torno da saudade ansiosa daquela primitiva vida paradisíaca que nunca houve em parte alguma», de que resultam «o naturismo, o culto da simplicidade, o fraternitarismo directo e generalizado» que na obra de Eliezer Kamenesky se revelam. Pessoa dedicar-se-á também a traduzir para inglês um romance autobiográfico deste judeu místico (tradução que chegou a ser confundida como obra original sua), intitulado precisamente Eliezer, e existente no seu espólio da Biblioteca Nacional.

 

 

Manuela Parreira da Silva