Numerosas exposições foram realizadas sob a égide do humor, mas, entre aquelas que se apresentaram com o título Exposições dos Humoristas, devem ser referidas apenas, dentro do restrito âmbito deste dicionário, aquelas que surgiram na segunda década do século xx, pois corresponderam a uma movimentação cultural inovadora e libertária, derivada da implantação da República (1910), e nelas apareceram alguns dos principais pioneiros da modernidade.

Efectivamente, em 1911, Stuart Carvalhais e Joaquim Guerreiro criaram uma Sociedade de Humoristas Portugueses que, em 1912, promoveu a I Exposição dos Humoristas, no Grémio Literário (Lisboa), reunindo vinte e oito artistas. A exposição constituiu um sucesso, tendo o presidente da República Manuel de Arriaga adquirido um desenho a cada um dos expositores. Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) foi homenageado, e reforçou-se essa homenagem concedendo a presidência do grupo ao seu filho Manuel Gustavo, também caricaturista. Além de Rafael, evocou-se outro grande caricaturista já falecido: Celso Hermínio (1871-1904). Entre os novos, os mais elogiados foram Cristiano Cruz (1892-1951), médico veterinário de profissão, Almada Negreiros (1893-1970) e Jorge Barradas (1894-1971). Outros participantes eram Alfredo Cândido, Cândido da Silva, Francisco Valença, Amarelhe, Rocha Vieira, Saavedra Machado, Alonso, Canto da Maia, Sanches de Castro, Meneses Ferreira e outros, entre os quais Adolfo Rodrigues Castañé que, nesse mesmo ano, retratou Fernando Pessoa. Ausentes, os próprios iniciadores do grupo: Stuart Carvalhais (1887-1961), embora figurando no catálogo, e Joaquim Guerreiro. Estas faltas foram talvez devidas a desavenças internas do grupo.

Em 1913, realizou-se a II Exposição dos Humoristas, com catálogo prefaciado por André Brun e capa de Cristiano Cruz. Apareceram Leal da Câmara (1876-1948), Canto da Maia (1890-1981), Emmérico Nunes (1888-1968), Almada, Barradas, Meneses Ferreira, Sanches de Castro, Valença, Manuel Gustavo, Castañé e outros, devendo destacar-se, entre os quais apareciam pela primeira vez, António Soares (1894-1978) e Milly Possoz (1887-1967). No total, eram vinte e nove expositores.

A II Exposição somente teve lugar em 1920, reunindo trinta e dois artista, entre os quais Armando Basto (1889-1923), José Pacheco (1883-1934), Ruy Vaz (1891-1955), Bernardo Marques (1899-1962), Arnaldo Ressano (1880-1947), Domingos Rebelo (1891-1977), Almada, Barradas, Emmérico, Cristiano Cruz, Leal da Câmara e Castañé.

Houve ainda mais duas Exposições dos Humoristas, em 1924 e 1926, com menor interesse, quanto à qualidade das suas obras apresentadas, devendo porém registar-se o aumento de desenhadoras. Por outro lado, o semanário humorístico O sempre Fixe tornou-se, desde o seu início em 1926, o elo de ligação dos humoristas portugueses, tanto os participantes nas Exposições como os novos praticantes.

 

Rui Mário Gonçalves

 

BIBLIO.: José-Augusto França, A arte em Portugal no Século XX, Lisboa, Ed. Bertrand, 1974; Oswaldo Sousa, Dos Humoristas Portugueses, Ed. Museu da Rpública/Humorgrafe, Lisboa, 1997; Rui Mário Gonçalves, Os Pioneiros da Modernidade, Lisboa, Ed. Alfa, 1986.