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Fernando Pessoa - Literary Theory

This digital edition of texts by Fernando Pessoa deals with the set of poetic theorizing writings from hisArchive and brings together essays, comments, notes, sketches and fragments about literature from the Portuguese author. The documents transcribed are in Fernando Pessoa’s Archive in the custody of the National Library of Portugal, with quota E3. All facsimiles are accompanied by a critical lesson and a paleographic transcription, which is available for download in the “PDF” field.

 

 

Medium
Fernando Pessoa
BNP-E3, 88 – 28
BNP-E3, 88 – 28
Fernando Pessoa
Identificação
Estética (Sensacionismo?)

[BNP/E3, 88 – 28]

 

Estética (Sensacionismo?)

 

Toda a actividade humana se acha subordinada a um triplo critério, que resulta da tripla base da vida dos homens em sociedade. A vida dos homens em sociedade assenta, evidentemente, sobre três elementos essenciais: (1) a relação económica, que se baseia, por sua vez, no instinto de conservação; (2) a relação sexual, que se apoia no instinto da reprodução, ou da conservação da espécie; (3) a relação intelectual, que se apoia na consciência larga que o homem tem de si-próprio, e que representa a conservação da personalidade.[1]

Resulta de aqui, vendo bem que tudo isto se apoia no facto, distintamente humano, da consciência-de-si-próprio, que o homem interpreta tudo através de três critérios, que distinguem como humana essa interpretação: (1) o critério do valor, que provém da relação económica; (2) o critério do prazer, que provém da relação sexual; (3) o critério da sociabilidade (??????) {…}

 

Os fenómenos psíquicos que caracterizam os agrupamentos humanos chamados sociedades, e que os distinguem dos agrupamentos animais – mesmo os mais perfeitos, como o cortiço e o formigueiro – derivam todos, como é fácil de ver, da circunstância |humanamente distintiva|, de o homem ser dotado de consciência de si próprio num grau e num género diferente do dos outros animais. Não importa aqui investigar qual o processo evolutivo que deu origem a essa consciência mais larga, ou, mesmo, qual a distinção que o psicólogo científico consente para estabelecer entre o psiquismo humano e o dos animais “inferiores” ao homem. Importa apenas, constatado o facto indiscutível, da superioridade

 

[28v]

 

dessa consciência como consciência, verificar nitidamente qual o resultado que essa consciência traz às relações dos indivíduos nas sociedades humanas, distintivamente das relações entre os indivíduos nas “sociedades” animais. (Não importa se a diferença é de grau, ou de género, de consciência; importa apenas ver qual a diferença, valha ela o que valer).

 

_______

No “inanimado”, nitidamente tal: não há distinção entre o indivíduo e a espécie – um bocado de ferro, não é aquele ferro, mas ferro; não há descontinuidade de vida, ou de existência, isto é, a forma essencial de vida é sempre a mesma, ao passo que no “animado”, nitidamente tal, há descontinuidades – há o alimento, que é uma coisa não de sempre mas essencial, há o repouso, de que se pode dizer o mesmo, e há a doença, que é já noutra |ordem de vida|, {…}

 

_______

Nos animais – a necessidade de alimento cria a noção instintiva do útil |ou| do necessário; a necessidade da união sexual cria o instinto do complementar; e a necessidade do repouso cria o instinto do agradável.

 

No homem:

a noção de útil transforma-se, por a criação da vida propriamente económica na ideia de valor;

a noção de complementar transforma-se, ( {…} ), na ideia de perfeição

a noção de agradável transforma-se ( {…} ), na ideia de {…}.

 

 

[1] da personalidade./(da sociedade)\

https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/2276
Classificação
Literatura
Sensacionismo
Dados Físicos
Dados de produção
Português
Dados de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Palavras chave
Documentação Associada
Fernando Pessoa, Sensacionismo e Outros Ismos, edição de Jerónimo Pizarro, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2009, pp. 418-419.