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Almada Negreiros, [1954], FGG/DEP-AN

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Arquivo virtual da Geração de Orpheu

Medium
Fernando Pessoa
BNP-E3, 88 - 5
BNP-E3, 88 - 5
Fernando Pessoa
Identificação
[Sobre o Sensacionismo]

[BNP/E3, 88 – 5]

 

Os efeitos da guerra sobre a literatura dependem em parte das consequências políticas da guerra. A determinação desses efeitos depende, portanto, da determinação – por enquanto muito difícil, sobretudo nos seus detalhes, que para o caso muito importam – destas consequências. Há efeitos literários, porém, que a guerra produzirá simplesmente como guerra, independentemente dos seus resultados políticos, só pela perturbação da sua prolongada presença. Não é difícil determinar esses efeitos, que são de três ordens.

A literatura das criaturas inferiores – dos Georges Ohnet, dos Anatole France, dos Edmond Rostand – sofrerá uma grande transformação. Essa pobre gente, que, no longo e injusto período de paz entre a guerra de 70 e hoje, se aplicou a ter atitudes superiores, sem que para isso houvesse nascido, passará a interessar-se mais pelas grandes realidades da vida, que a guerra, presença quotidiana da Morte, deixará bem lembradas. Eles tornar-se-ão ao mesmo tempo mais humanos e mais modestos. Abandonarão a difícil tarefa de ter opiniões, mesmo alheias, e sentimentos estéticos, mesmo próprios; passarão a ter uma orientação psíquica plebeiamente comedida, como convém a gente que escreve para o chamado “grande público” (deputados, costureiras e membros das Sociedades nacionais de belas-artes). E assim este género de sapateiros, que hoje tocam o rabecão da arte para os ouvidos da estupidez cosmopolita, passará a trabalhar no único sentido que Deus lhes permitiu – o folhetim patriótico ou amoroso, mais quotidiano do que nunca.

A literatura dos novos românticos (futuristas e cubistas) desaparecerá por completo, dada a necessidade de reconstruir as cidades e as pontes.

O campo da literatura superior (cuidadosa e esotericamente vedado aos olhares do público) ficará definitivamente entregue à grande geração que completará a céu e estrelas a obra doentia iniciada pelos simbolistas. A grande arte futura levará ao seu luminoso extremo a atitude decadente, que cultivará com escrúpulo. Essa arte será toda de desdém pelo povo, de aversão pelos velhos temas de amor, da glória e da vida, de indiferença pela pátria, pela religião, pela humanidade, por todas as coisas com que a sinceridade dos ignóbeis se preocupa. Será o anarquismo dos superiores, sem explicação, sem utilidade e sem desculpa. Orgulha-me constatar que alguns raios dessa luz futura tocam já, com seu fulgor mortiço, o pendão do MOVIMENTO SENSACIONISTA, que, revelado primeiro através de “Orpheu”, de dia para dia conta em Portugal, seu país de origem, um número maior de aderentes.

FERNANDO PESSOA

Sensacionista

 

https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/2264
Classificação
Literatura
Sensacionismo
Dados Físicos
Dados de produção
Português
Dados de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Palavras chave
Documentação Associada
Paula Cristina Costa, As Dimensões Artísticas e Literárias do Projecto Sensacionista, Tese de Mestrado em Literaturas Comparadas Portuguesa e Francesa, Lisboa, FCSH – Universidade Nova de Lisboa, 1990, pp. 288-289.

Investigador Responsável: Fernando Cabral Martins (https://orcid.org/0000-0001-8481-5108)

O projeto 'Modernismo: Arquivo Virtual da Geração de Orpheu' tem como missão sistematizar informações, imagens e estudos sobre o Modernismo português.

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