Nome de família de três personalidades literárias. Thomas Crosse é o mais documentado dos três irmãos Crosse, ensaísta e tradutor, teria a incumbência de divulgar, em inglês, a cultura portuguesa. Contemporâneo de Orpheu, teria a função de divulgar, não só o movimento sensacionista, mas também a cultura portuguesa em geral. Traduziria para inglês Alberto Caeiro, uma «personalidade lucidamente fora do mundo», caracterizada por «contradições» que lhe conferem «a sua complexa e intensa originalidade – uma originalidade, a todos os níveis, dificilmente atingida até agora por outros poetas, certamente nunca atingida por um poeta nascido numa época gasta e sofisticada» (Pessoa por Conhecer II – Textos para um Novo Mapa). Thomas Crosse traduziria também «poetas muito pouco conhecidos, e injustamente esquecidos: A Poesia dos Cancioneiros, Cristóvão Falcão e Bernardim Ribeiro, José Anastácio da Cunha, Antero de Quental, Guerra Junqueiro, Cesário Verde, Decadentes e Pessimistas, Os Sensacionistas» (Ibid.). Uma outra lista de «Possíveis artigos por Thomas Crosse (ou coisa parecida)» revela o pendor épico-ocultista desta personalidade literária: «Um conspecto das teorias a respeito de Colombo», «O Mito d’el-Rei Sebastião», «Os Reis que hão-de regressar», «A Maçonaria em Portugal» (Ibid.). Thomas Crosse escreveu também sobre linguagem e língua, particularmente a portuguesa, numa perspectiva que pode ser relacionada com a de língua imperial ligada ao Quinto Império, como atestam os textos «O Problema das Línguas» e «Tendência orgânica para a unidade». (Pessoa Inédito, pp. 237-239).

Quanto a I. I. Crosse, coadjuvaria o irmão Thomas na divulgação em inglês de Alberto Caeiro e dedicar-se-ia à de Álvaro de Campos. Sobre este heterónimo, escreve: «Álvaro de Campos é um dos maiores ritmistas que jamais houve. É o mais violento de todos os escritores. O seu companheiro Whitman é tímido e calmo comparado com ele. Mas o mais turbulento dos dois poetas é o mais autocontrolado. É tão violento que parte dessa violência é aproveitada para disciplinar a sua própria violência.» (Pessoa por Conhecer II – Textos para um Novo Mapa, p. 237).

Era em nome do terceiro dos irmãos, A. A. Crosse, que Pessoa respondia a concursos de charadas em publicações inglesas. Em Pessoa, o gosto pelos enigmas e charadas transitou da infância para a idade adulta, e chegou a ser encarado como uma fonte de proventos económicos, que possibilitaria o seu próprio casamento, como indicam as várias referências a A. A. Crosse presentes na correspondência entre Pessoa e Ofélia Queirós. Existe um envelope de Ofélia Queirós dirigido a A. A. Crosse e, numa carta de 22 de Março de 1920, Pessoa escreve: «Olha Bebezinho... Nas tuas promessas pede uma coisa, que em tempos me pareceu duvidosa, por causa da minha fraca sorte, mas agora me parece mais, muito mais possível. Pede que o snr. Crosse acerte no alvo de um dos prémios grandes – um dos prémios de mil libras a que concorreu. Não calculas a importância que para nós ambos teria se isso acontecesse! (...) Adeus, amor; não te esqueças do snr. Crosse, não? Olha que ele é muito nosso amigo e pode ser-nos (a nós) muito útil.» (Correspondência – 1905-1922, pp. 321-322).

 

Madalena Dine