Fernando Pessoa habitou em vários locais da cidade de Lisboa, mudando-se com frequência ao sabor das conveniências e das ocasionais dificuldades financeiras. Nasceu no Largo de S. Carlos, no nº 4, 4º andar esquerdo e aí ficou desde essa data, 13 de Junho de 1888, até 1893, altura em que a mãe, já viúva, se mudou, com os dois filhos, para a Rua de S. Marçal, nº 104, 3º andar, no dia 15 de Novembro. Aí vivem de 1893 a 1896. Na sequência do casamento, por procuração, da mãe de Pessoa com João Miguel Rosa, cônsul de Portugal em Durban, a família embarca para a África do Sul em Janeiro de 1896. Deste período é conhecido o seguinte endereço: Tersilian House, Ridge Road, West Street, n.157. Em 1901, vêm de visita a Portugal e, segundo Eduardo Freitas da Costa (v.), instalam-se num rés-do-chão de uma das transversais da antiga Rua Direita de Pedrouços, junto à Quinta do Duque de Cadaval, que ficava perto da casa das tias-avós de Pessoa, Maria Xavier Pinheiro da Cunha e Rita Xavier Pinheiro, na Rua de Pedrouços, no número 45 r/c. A 2 de Maio de 1902, Pessoa parte com a mãe, o padrasto e os irmãos para a Ilha Terceira, nos Açores, onde ficam 9 dias em casa da Tia Anica (Ana Luíza Pinheiro Nogueira, irmã da mãe), na Rua da Palha (actualmente Rua Padre António Cordeiro). O regresso ao continente é antecipado devido a uma epidemia de meningite cérebro-espinal. Em Lisboa, a família instala-se, a partir de 20 de Maio de 1902, na Avenida D.Carlos, nº109, 3º andar direito, em Santos. A 26 de Junho a mãe, os irmãos e o padrasto embarcam para Durban, mas Pessoa fica ainda em Lisboa, certamente em casa das tias-avós, em Pedrouços. Em Setembro, embarca sozinho para Durban, onde a família habita na Tenth Avenue, Perea, e só volta, desta vez definitivamente, para Portugal a 14 de Setembro de 1905. Fica uns dias em Pedrouços, mas muda-se depois para casa da tia Anica, que viera para o continente depois de enviuvar, na Rua de S.Bento, nº98, 2º esquerdo. Vive aí durante um ano. De Outubro a Dezembro de 1906, a mãe, o padrasto e os irmãos visitam Lisboa, tendo alugado uma casa na Calçada da Estrela, nº100, 1º, onde todos vivem. Depois do regresso da família a Durban, em Maio de 1907, Pessoa vai de novo para casa das tias-avós, Maria e Rita, desta vez na Rua da Bela Vista à Lapa, nº 17, 1º, onde também se encontra a avó paterna. Em Novembro de 1909, muda-se para a Rua da Glória, nº4, r/c, casa que ficava perto da sede da Empresa Íbis, que começou a funcionar na mesma data na Rua da Conceição da Glória, 38, 4º. Em finais de 1910, ou em 1911, encontra-se num quarto alugado, no número 18-20, 1º andar esquerdo, do Largo do Carmo. No mesmo prédio funcionava, desde os finais de 1910, a Agência Internacional de Minas, de que é director o primo Mário Nogueira de Freitas, e a Garantia Social, «Agência de Negócios Indeterminados», empresas em que colaborou. Richard Zenith refere que, apesar de o Anuário Comercial relativo a 1911 e 1912 dar a Rua da Glória como endereço de Pessoa, não encontrou cartas para esse endereço após Novembro de 1910, existindo várias endereçadas para o Largo do Carmo a partir de Março de 1911. Em 1911, de Junho até, pelo menos, Setembro, Pessoa vive em casa da tia Ana Luísa Nogueira, na Rua Passos Manuel, nº24, 3ºesquerdo. Existe uma carta de Durban enviada a 24 de Junho desse ano para o Largo do Carmo e reenviada para a Rua Passos Manuel em 18 de Julho. A correspondência recebida da mãe, com data de Agosto de 1911, e do sr. Kellogg, representante em Lisboa da Biblioteca Internacional de Obras Célebres que contratara Pessoa para traduzir poetas de língua inglesa, com data de 17 de Setembro, indicam a Rua Passos Manuel como morada. Numa lista de dívidas do mês de Novembro de 1913, vêm mencionados 10 meses e meio de aluguer devidos à Tia Anica. Coloca-se a hipótese de Pessoa ter habitado, por pouco tempo, noutro lugar, no ano de 1912, pois existe uma carta da mãe dirigida ao Largo do Carmo, nº 20, 1º, que chegou a Lisboa em 31/10/1912. De 1914 a 1915, continua a alojar-se em casa da tia Anica, agora num andar da Rua Pascoal de Melo, nº119, 3º direito, até ela partir para a Suíça com a filha. Pessoa vai então viver para a Rua D.Estefânia, nº 127, r/c direito, num quarto alugado a uma engomadeira. Aí ficará de 1915 a 1916. Em 1916, muda-se para a Rua Antero de Quental. Em Outubro – Novembro de 1916, Pessoa habita um quarto contíguo à Leitaria Alentejana, na Rua Almirante Barroso, nº 12, de que era proprietário Manuel António Sengo. Foi Mário Nogueira de Freitas (v.), filho de Ana Luísa Nogueira,  que apresentou Sengo a Pessoa, para que estes tratassem de um negócio de lenhas em que estavam interessados e para o qual Pessoa daria o seu apoio técnico. Como conta Ferreira Gomes (v.), Pessoa aluga de seguida um apartamento de dois quartos em casa deste mesmo Sengo que, depois de trespassar a Leitaria, se estabeleceu com um escritório de comissões ao lado da firma F.N. Pessoa, na Rua do Ouro, nº87, 2º. Pessoa fica, de 1916 a 1917, nesse apartamento, na rua Cidade da Horta, nº 58, 1º direito. De 1917 a Outubro ou Novembro de 1918, Pessoa habitou o nº17, 1º andar, da Rua Bernardim Ribeiro. Segundo o testemunho de Eduardo Freitas da Costa, é governanta de Pessoa a «pitoresca D. Emília» e a sua filha Claudina, fruto de uma relação com Manuel António Sengo. Em 1918, Pessoa muda-se para uma casa mobilada na Rua de Santo António dos Capuchos e em Maio-Agosto (?) de 1919 para a Rua Capitão Renato Baptista, nº3, r/c esquerdo. Em Outubro-Novembro (?) de 1919, muda-se para outra casa, na Avenida Gomes Pereira, em Benfica. Em 29 de Março de 1920 vai por fim viver para a Rua Coelho da Rocha, nº16, 1º direito, onde ficará até à sua morte, em 1935.

 

Manuela Parreira da Silva, Realidade e Ficção, Assírio & Alvim, Lisboa, 2004.

Fernando Pessoa, Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão

Pessoal, edição e posfácio de Richard Zenith, Assírio & Alvim, 2003.

Marina Tavares Dias, Lisboa nos Passos de Pessoa, Quimera, Lisboa, 2002.

 

Ana Maria Freitas