Amigo de Mário de Sá-Carneiro, que a ele dedica o poema Não em Alma Nova em 1917, vê a sua primeira peça, As Rosas, representada logo em 1912 no Teatro Nacional, no início de uma carreira de autor, e depois de empresário de teatro, com largos desenvolvimentos no meio. Nos anos de preparação de Orpheu, publica um pequeno livro de poemas devedor de todos os estereotipos vigentes em 1913, Pétalas de Rosa. Mas torna-se em 1914 o director e o dinamizador, com José Coelho Pacheco, da revista que se tornou no órgão não-oficial do Paulismo, A Renascença. Aí publica um pequeno texto, Visão Cega, que interpreta com alguma desenvoltura o programa estilístico que o grupo paúlico defende por essa época, usando todos os seus modismos temáticos e retóricos, e revestindo a sua atitude de um ultra-decadentismo provocatório: «Um sonho vago, espiritual de além, um fumo avermelhado que se nimba em som, uma harmonia que se esvai num pranto cristalino, intermitente». No ano seguinte, Fernando Carvalho Mourão publica no jornal de Estremoz Terra Nossa aquela que é uma das poucas recensões entusiáticas que o Orpheu desperta na imprensa portuguesa, escrita de um ponto de vista que o torna, apesar de menor como poeta, um nome a incluir por direito próprio no grupo paúlico. Conhece-se ainda dele um soneto publicado em Alma Nova que lembra o universo de Sá-Carneiro, de quem é um claro émulo, o que se pode ilustrar pelo terceto final: «Os palácios, agora confundidos, / Tombaram todos sobre os meus sentidos, / E, sob as ruínas, despertei do Incerto!»  

 

 

Fernando Cabral Martins