Figura mitológica. Um dos Hecatonquiros, trezentos gigantes de cem braços, filhos de Úrano e Geia. Com os seus irmãos, combateu ao lado de Zeus contra os Titãs e recebeu a mão de uma filha de Posídon em casamento, por se ter distinguido em combate. Mais tarde, quando os outros deuses do Olimpo se preparavam para acorrentar Zeus, Briareu, avisado por Thetis, salvou-o. Como recompensa ficou no Tártaro, de guarda aos Titãs que ali ficaram presos.
Fernando Pessoa escreveu um poema dramático incompleto e fragmentado com o título Briareu, parte de um conjunto de poemas dramáticos centrados em figuras mitológicas relacionadas. Encontram-se notas referentes a esta peça datadas de 1908 e de 1910. Pertenceria a um conjunto intitulado Trilogia dos Gigantes, ou Gigantes. Para além desta, as outras peças do conjunto seriam Typhon e Livor, nomes dos irmãos de Briareu, ou, de acordo com outro esquema, Braireu, Typhon e Encelado. Relacionado com Briareu existe ainda o poema dramático Cephisa, nome da noiva de Typhon. Neste poema dramático de Pessoa, Briareu lança um desafio a Júpiter. A sua mãe, a Terra, tenta dissuadi-lo, argumentando que ninguém pode vencer Júpiter e incitando-o a fruir dos prazeres calmos da vida e da tranquilidade do seu seio florido. Briareu não se deixa convencer e lança-se na sua guerra eterna ao Mal/ Que tem o trono no Infinito (Teresa Rita Lopes, Fernando Pessoa et le Drame Simboliste , p. 135). É vencido e Júpiter castiga-o, enterrando-o sob o Monte Etna. Deste modo, a Terra, sua mãe, será a sua prisão e a sua eterna sepultura. O poema dramático termina da seguinte forma: …a noite lenta e longe e a solidão/ Enchendo de si mesmo o espaço frio/ E inalterável, e o mistério vago/ E as estrelas longínquas reluzindo/ Eternamente no silêncio eterno (ib.). O autor refere, numa nota, que o gesto de Briareu é a acção do revolucionário, violenta e inútil. No conjunto Trilogia dos Gigantes, Briareu seria a personificação da acção, cabendo a Livor o papel de encarnar o sonho.
Espólio de Fernando Pessoa na Biblioteca Nacional – E3
Teresa Rita Lopes, Fernando Pessoa et le Drame Simboliste, Fondation
Calouste Gulbenkian, Centre Culturel Portugais, Paris, 1985.
Ana de Freitas