Gostava tanto de mexer na vida,
De ser quem sou, mas de poder tocar-lhe...
E não há forma: cada vez perdida
Mais a destreza de saber pegar-lhe...
Viver em casa como toda a gente –
Não ter juízo nos meus livros, mas
Chegar ao fim do mês sempre com as
Despesas pagas religiosamente...
Não ter receio de seguir pequenas
E convidá-las para me pôr nelas.
À minha torre ebúrnea abrir janelas,
Numa palavra – e não fazer mais cenas!
Ter força um dia pra quebrar as roscas
Desta engrenagem que empenando vai.
– Não mandar telegramas ao meu Pai,
Não andar por Paris, como ando, às moscas...
(à suivre)
Já vê o meu querido amigo... Não lhe dizia eu que estava um boneco muito pouco interessante?... A melhor terapêutica, se tiver forças ainda para a aplicar é escrever a «Novela Romântica». Assim venho pedir-lhe um grande favor e causar-lhe uma grande estopada: procurar a carta em que eu lhe desenvolvi a novela pois perdi os apontamentos que tomara. Você assim faz-me um grande favor! Vamos a ver se ainda posso escrever aquela história. É o único remédio! Cada vez posso menos deixar de ser Eu – e cada vez sofro mais por ser Eu. Infelicidade porém que já não – como outrora – esse sofrimento me doire. Hoje apenas, juro-lhe, se me fosse possível, apagaria o oiro... Ai, ai que caranguejola! Desculpe estes lamentos. E procure a cartinha – sim? Tenha paciência. Mas logo que possa hein? – O José Graça escreveu-me uma carta que recebi hoje. Desfaz-se em desculpas, que foi o revisor etc., e que na Ilustração Portuguesa vão sair umas linhas sobre o assunto. Veremos...