Identificação
Carta enviada de Paris, no dia 15 de Março de 1916.
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Paris – Março 1916
Dia 15
Meu Querido Amigo,
Recebi hoje os 160 francos e antes de ontem o seu telegrama. Muito obrigado, de joelhos, por tudo. Já escrevi à minha Ama. Também recebi dinheiro do meu Pai. Não tenho cabeça para lhe escrever. Não sei nada. Não se assuste em todo o caso nem deixe de se assustar. Cá irei. Não tenha medo, juro-lhe. Mas não sei coisa nenhuma. Devia partir e não parto. Darei sinais de vida por postais – é tudo: não lhe posso escrever. Mas você vá-me escrevendo sempre como se não fosse nada consigo. Dê-me notícias, potins etc. Eu é que lhe não posso res- ponder, meu querido Amigo. Breve de resto estarei com certeza aí em Lisboa – ou no raio que me parta – mas em Lisboa com certeza, não há dúvida. Escreva, escreva – e não se assuste, repito. Por mim já sabe: postais.
E repito-lhe do fundo de alma todos os meus perdões, toda a minha infinita gratidão.
Mil saudades e mil abraços do seu, seu
Mário de Sá-Carneiro