Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos berros e aos pinotes
– Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas.
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza:
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro...
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Mas então para fixar o instante desta minha vinda ao Café Riche onde agora já não entro com medo de encontrar o Mário – hoje felizmente ele não estava, estava só o monsieur do Temps – envio-lhe esta carta inútil e riscada que você perdoará, hein? Aproveito para remeter um soneto mau. Agora porém o que estou é muito interessado na confecção dum poema irritantíssimo, «Feminina» – que comecei ontem à noite, quando me roubaram o chapéu-de-chuva.
Pano de amostra:
Eu queria ser mulher pra me poder estender
Ao lado dos meus amigos, nas banquettes dos cafés.
Eu queria ser mulher para poder estender
Pó de arroz pelo meu rosto, diante de todos, nos cafés.
Eu queria ser mulher pra não ter que pensar na vida
E conhecer muitos velhos a quem pedisse dinheiro –
Eu queria ser mulher para passar o dia inteiro
A falar de modas e a fazer «potins» – muito entretida.
Eu queria ser mulher para mexer nos meus seios
E aguçá-los ao espelho, antes de me deitar -