Uma carta rápida para – sobretudo lhe enviar uma coisa extraordinária do Raul Leal que ontem recebi. Leia essas páginas, que chegam a ser belas, mas que são terríveis – um pesadelo sem sono, qualquer coisa de alucinante e miserável, de pôr os cabelos em pé. Tive na verdade calafrios ao ler essas páginas – determinadas passagens sobretudo. Que tragédia a dessa alma – que coisa lamentável porque, dentro do seu horror belo – é também asquerosa: e no nojo, francamente é muito difícil encontrar o belo. Leia, arquive – escusa de mandar – e diga-me o que pensa a esse respeito. Não a mostre a ninguém – claro. Outra novidade: «A intensidade do sensacionismo: A Confissão de Lúcio provoca um escândalo num café» tal a manchette que podia vir num jornal: Com efeito lia as primeiras páginas a uma rapaz Araújo – de que lhe falarei mais circunstanciadamente, pois é uma ligeira sensibilidade sensacionista – quando uns fregueses nos mandaram calar: porque falávamos Alemão!! protestei enervado, o rapaz Araújo fez-se cor de lagosta: os clientes levantaram-se todos... e tudo acabou mostrando-se o livro aos homenzinhos que ficaram passados... claro que se fosse outro livro qualquer nada disto tinha acontecido: foi por ser uma obra sensacionista! Você concorda, não é verdade?...